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sábado, 06-07-2024
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Biografia

Biografia
                  

Afonso Gaio  
[Vila Nova de Ourém, 1872 - Lisboa, 1941]  

Órfão de pai, criado na Casa Pia de Lisboa, trabalha desde a adolescência no comércio, mais tarde profissionaliza-se no jornalismo e acaba vivendo como arquivista de um organismo de inspecção económica. Mas a sua vocação era a literatura, que o levou à frequência temporária e sacrificada do Curso Superior de Letras e a uma pertinaz e insubmissa luta pela realização como escritor.

Depois do folheto A Noviça (1892), que prenuncinva a feição combativa e jacobina da obra posterior, Afonso Gaio aparece no fim do século associado ao grupo da revista Renascença (J. Dantas, M. Penteado, Nuno Bulhão Pato, Domingos Guimarães, etc.), de orientação ainda incerta (entre o decadentismo e alternativas neo-românticas, ora de complementaridade lusitanista, ora de reacção vitalista), e publica em 1896 o livro de poesia Coroa de Espinhos, por aquele grupo excessivamente exalçado e colocado a par não só do Nada de J. Dantas mas também do de A. Nobre e do Interlúnio de Eugénio de Castro, na condensação e ilustração da crise coeva de pessimismo e dor.

Mais tarde altera a orientação das suas tentativas poéticas, com o poemetojoco-sério Lobinho Filológico (1897), com o poema lírico Nós (1900) e com o poema dramático Heróis Modernos (1901) e «alegoria social» que se traduz em longa glosa, populista e compadecente, de uma epígrafe de V. Hugo consagrando os heróis obscuros da desgraça e do abandono.

Similar deveria ser o poema em 10 cantos Os Escravos, que ficou inédito. Fazendo incursões também na ficção narrativa, com os contos de Malavindos e os romances Os Novos (Romance de Vida Boémia), 1913, e O Poder do Ódio, todavia Afonso Gaio destaca-se pela tenacidade com que tenta impor-se como dramaturgo, produzindo incansavelmente textos a que várias vezes foi negada representação, graças em parte às polémicas subsequentes, alguns desses textos-insertos, como os de ficção novelesca, no terreno ambíguo da fusão entre herança naturalista e neo-romantismo vitalista, incentivado pelo exemplo de Antoine e pela acção entre nós do «Teatro Livre» e do «Teatro Moderno» de Araújo Pereira – vieram depois a obter em Portugal ou noutros países latinos um êxito de ocasião, superior ao valor documental que hoje conservam. Foi o caso de O Desconhecido (1900), Máxima (1906), Mater Dolorosa, O Condenado (1917, depois adaptado pelo nascente cinema português); e foi sobretudo o caso de Quinto Mandamento (1905): concebido como «peça de transição» para «aliar o teatro de ideias ao de situações», nele a generosidade utópica de reformador social de um médico simbolicamente chamado Ângelo contracena com o retrato naturalista da criada Custódia e do cínico proprietário Alexandre.

Quer a paixão pelo teatro quer a actividade jornalística conduziriam a livros de crónicas e conferências, como O Mundo fora dos Eixos (1927) e Evolução do Teatro Português Contemporâneo (1923).
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994