Bernardo de Passos
[São Brás de Alportel, 1876 - Faro, 1930]
Poeta e jornalista. Fervoroso propagandista dos ideais republicanos, que defendeu em numerosos artigos nos jornais regionais (assinados com o pseudónimo de Brás Brasil), foi, com a instauração da República, nomeado administrador do concelho de Faro e, seguidamente, secretário da Câmara Municipal da mesma cidade, cargo que ocupou até à morte. Para além desta faceta política, o seu nome ficou ligado à poesia. Cultivando um lirismo acentuadamente regionalista, celebrou, com variados registos, a atmosfera da sua terra algarvia, e, sobretudo nos seus primeiros livros, foi muito influenciado por A. Nobre, Junqueiro, notando-se-lhe também, por vezes (soneto "Aparição", etc.), o rasto de Mário Beirão. A pouco e pouco a sua voz foi-se, porém, tornando mais segura e original, até atingir um acento "visionário", particularmente sensível nas duas obras póstumas. Se na primeira das suas obras, Adeus, está ainda muito voltado para o seu "melancólico passado", já em Grão de Trigo canta a Natureza, a mulher e a vida, ao mesmo tempo que identifica ingenuamente a harmonia universal com a utopia dos ideais republicanos. É, no entanto, no último livro, Refúgio (ed. póstuma), que atinge a maturidade do seu talento lírico numa simplicidade e despojamento que fazem lembrar João de Deus, ao mesmo tempo que esta é também, do ponto de vista formal, a obra em que consegue uma liberdade maior de imagens e um maior sentido da musicalidade.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994
