Ângelo Jorge
[?, 1883 - ?, 1922]
A sua longa bibliografia desenha-nos um espírito profundamente irrequieto, insatisfeito, extremamente dinâmico e estranho pelas suas múltiplas contradições, sendo necessário recorrermos à perspectiva de uma progressso no tempo para o compreendermos.
Assim, podemos observar um primeiro período, explicitado pelos próprios títulos, que acabará com o livro Olhando a Vida. Dele sobressai Dor Humana, que, pelas suas qualidades a nível da sensibilidade e do conteúdo, nos revela um interessante autor.
A ideia metafísica de um ideal incorruptível, que a Justiça, a Verdade, o Amor, a Liberdade e a Igualdade consubstanciam, é perfilhada ardentemente por Ângelo Jorge, apesar de vir já do século passado. No entanto, a sua «alma de revolucionário anarquista» parece não ter gostado do que se passou depois de 1910, pois tudo esquece rapidamente, alheado por outras preocupações, agora as da cura do corpo e do espírito através da benfazeja Natureza.
É o segundo período, em que inventa e sobrevoa édens magníficos que o levam à «prática» do naturismo. O terceiro período é o do regresso à moral e misticismo clássicos (o autor fala mesmo de metamorfose!), que o conduzem a retractar-se das suas loucuras de «iconoclasta», considerando-as como «mesquinhas vinganças».
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994