Maria José Marinho
[Porto, 1928]
Investigadora, mulher de cultura e de reconhecida erudição, é filha de José Marinho, um dos maiores expoentes do pensamento filosófico português.
Nascida em famílias de tradição republicana, fez os seus primeiros estudos no liceu Carolina Michaëlis, no Porto, a que se seguiu o curso de Historico-Filosóficas na Faculdade de Letras de Lisboa. Aí conheceu Alberto Ferreira, com quem partilha, até hoje, a vida intelectual e afectiva.
Anti-fascista e opositora ao regime salazarista, viu-se impossibilitada de exercer, durante largos anos, funções públicas. Foi por razões políticas que viu indeferido o seu diploma do ensino de Português e História, superando tal dificuldade através de explicações particulares. Entre 1952 e 1967 dedicou-se à tradução de obras de filosofia, ensaio e literatura e, entre 1969 e 1971 à publicidade. Das explicações, tradução e publicidade resultaram formas de vivência e de sobrevivência de muitos dos intelectuais desta geração.
Funcionária do Ministério da Educação em 1971 (sendo Veiga Simão ministro da Educação), integra a partir de 1981 o quadro de funcionários da Biblioteca Nacional prestando inigualável serviço ao Arquivo da Cultura Portuguesa Contemporânea até completar os 70 anos, em 1998. A tempo inteiro e de corpo e alma prosseguiu, então, os trabalhos de investigação historico-literária.
Dos numerosos títulos traduzidos, onde figuram obras de Soren Kierkegaard, Platão, Simone de Beauvoir, George Gurvitch, Benjamim Constant e Roland Desné, especial nota para O Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens: Do Contrato Social. O pensamento de J. J. Rousseau foi de tal forma interiorizado que deixou marcas visíveis no comportamento ético, na maneira de ser e estar de MJM com os outros.
Paralelamente inicia a actividade como investigadora, primeiro no âmbito da História Portuguesa do século XIX e depois no da Cultura Literária, sendo de realçar, em colaboração com Alberto Ferreira, a organização da obra Bom Senso e Bom Gosto, referência obrigatória para os estudiosos da geração de setenta.
Foi colaboradora assídua do Diário de Lisboa (1981-1985 e 1988) e da Revista da Biblioteca Nacional (1982-1994). Colaborou no Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e de Teoria Literária, no Dicionário da Geração de Setenta, no Dicionário Biográfico Parlamentar e no Dicionário de Neo-Realistas (os três últimos no prelo). Preparada para publicação está, também, a Correspondência Amorosa entre Jaime Batalha Reis e Celeste Cinatti.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998