Frei Luís de Sousa
[Santarém, 1555? - Convento de Benfica/Lisboa, 1632]
Historiador e admirável prosador da língua portuguesa.
Manuel de Sousa Coutinho, seu nome no século, era filho de Lopo de Sousa Coutinho e de D. Maria de Noronha, dama da rainha D. Catarina, e oriundo da melhor nobreza do reino. Começou por seguir a carreira das armas. Cavaleiro da Ordem de Malta, esteve algum tempo cativo em Argel (1576-1577?), levantado-se a hipótese de ter conhecido aí Cervantes. Liberto do cativeiro passou dois anos em Valença onde conviveu com Jaime Falcão, «distinto humanista, poeta latino consagrado, douto nas Matemáticas, [...] dele ouviu Manuel de Sousa Coutinho a lição e a regra poética de Horácio.» (M. Lopes de Almeida)
Em 1580 foi nomeado alcaide-mor do castelo e capitão-mor da gente das ordenanças de Marialva e seu termo. Filipe II, como recompensa pelos seus serviços, concede-lhe o acrescentamento de moço fidalgo a fidalgo escudeiro com correspondente aumento de moradia, em Dezembro de 1582. Um ano depois celebrou o contrato de casamento com D. Madalena de Vilhena, viúva de D. João de Portugal desaparecido em Alcácer Quibir.
Desde esta data até Março de 1594, quando Filipe II o voltou a acrescentar, desta vez de fidalgo escudeiro a fidalgo cavaleiro, nada se conhece da sua vida a não ser que durante este período se deverá ter realizado a sua viagem ao Panamá.
Entre 1596 e 1600 foi Provedor da Misericórdia de Almada, função que alternou com Francisco de Andrada que foi historiador e guarda-mor da Torre do Tombo. Em 1598 era guarda-mor da saúde e capitão-mor da vila de Almada. Em 1599 Lisboa foi assolada pela peste e, tendo os governadores do reino passado à margem sul do Tejo, primeiro a Alcochete e depois a Almada, quis um deles instalar-se numa casa do fidalgo. Para impedir a ocupação D. Manuel lançou fogo à casa, seguindo a cavalo na direcção de Madrid.
Manuel de Sousa Coutinho descreve o episódio no prefácio que escreveu para as Obras Poéticas do seu amigo Jaime Falcão que organizou e editou em Madrid em 1600.
Tornou a Lisboa em Maio de 1600 e, voltando a peste a Lisboa nesse mesmo ano, foi confirmado nos cargos de capitão-mor e guarda-mor da saúde de Almada. Em 1613, quando lhes faleceu uma filha única, D. Manuel e D. Madalena resolveram professar em conventos da Ordem dominicana, entrando ele em S. Domingos de Benfica. Tomou o hábito dominicano em 1614 após o ano de noviciado, com o nome conventual de Fr. Luís de Sousa.
Várias conjecturas que se teceram em torno desta dupla reclusão foram aproveitadas pela literatura, mas a perda da filha e a religiosidade dos pais afiguram-se motivos suficientes para justificar a decisão tomada.
Uma das tarefas que lhe foi atribuída no convento foi a de elaborar os materiais deixados por Fr. Luís de Cácegas. Aos cinquenta e oito anos nasce o grande escritor, que nos deu a Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires (Viana do Castelo, 1619) e a Primeira Parte da História de S. Domingos (Benfica, 1623), tendo a segunda e a terceira parte saído, respectivamente, em 1662 e 1678. Em manuscrito deixou-nos os Anais de D. João III, que só vieram a lume, graças a Alexandre Herculano, em 1846.
Na biografia de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, arcebispo-primaz de Braga, o autor traçou-nos um retrato muito vivo do homem e do religioso, logrando uma compreensão íntima da personagem que é verdadeiramente moderna. Na História de S. Domingos, em que Frei Luís de Sousa se serve das notas deixadas por Frei Luís de Cácegas, como ele próprio declara, oferece-nos uma narrativa fascinante pelo interesse na história local e pelo modo como nos revela a pervivência de certas tradições medievais.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
06/2004