D. Frei Amador Arrais
[Beja, 1527? - Coimbra, 1600]
Carmelita calçado, estudou Teologia em Coimbra, foi pregador da capela de D. Sebastião e, mais tarde, bispo de Portalegre, por nomeação de Filipe II. Desempenhou durante quinze anos esta função, à qual renunciou em 1596, recolhendo-se ao colégio da sua Ordem, em Coimbra, onde passou os últimos anos da sua vida.
Continuou os Diálogos iniciados por seu irmão, o médico Jerónimo Arrais, que a morte tinha interrompido. É uma obra composta por dez diálogos, cuja personagem central é um doente, Antíoco, que vai discorrendo sobre variados assuntos com os seus sucessivos visitantes. O livro destinava-se à edificação cristã, e nota-se a preocupação de que a linguagem fosse acessível a uma vasta audiência, sob uma forma cuidada e um estilo puro e fluente, que fazem alguns críticos considerar Frei Amador Arrais «um dos mais perfeitos mestres da língua portuguesa».
A prosa é recheada de referências eruditas, recorrendo à autoridade dos antigos, às Escrituras Sagradas e aos modernos, e os problemas tratados (a cobiça e usura dos judeus consideradas como as principais causas da decadência portuguesa, a subordinação do poder político à autoridade da religião, a defesa da dilatação da fé pela pregação e pela conquista, etc.) dão-nos um valioso panorama da mentalidade da época, moldada pelo espírito da Contra Reforma.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Lisboa, 1989