António de Gouveia
[Beja, 1513? - Turim/Itália, 1566]
Humanista, jurisconsulto e professor universitário de grande distinção, cuja carreira intelectual se desenvolvou e exerceu longe da pátria.
O seu destino é semelhante ao dos irmãos, André, Diogo e Marcial, que também se celebrizaram fora de Portugal, atraídos inicialmente a Paris por um tio famoso, Diogo de Gouveia, que dirigia o Colégio de Santa Bárbara. Admirados em toda a Europa do Renascimento, os Gouveias constituíam uma autêntica dinastia cultural que muito fez pelo nome do país.
António frequenta Santa Bárbara em 1527, onde cursa Humanidades, obtendo o seu grau universitário em 1534. Entra pouco depois para o corpo docente do Colégio. Em 1535 está a leccionar no Colégio de Guiena (Bordéus), seguindo em 1538 para Tolosa e depois Avinhão, a fim de estudar Jurisprudência. Desloca-se para Lião, onde aprofunda o seu saber jurídico (1539-1541), regressando, no fim do ano de 1541, ao Colégio de Santa Bárbara para reger a cátedra de Filosofia.
É durante este período que ele se envolve numa polémica com Pierre de la Ramée, produzindo a sua Pro Aristotele Responsio (Paris, 1543). António de Gouveia iliba Aristóteles dos exageros da Escolástica, que nada tem a ver com o verdadeiro pensamento do filósofo, e condena tais excessos na argumentação do seu opositor.
Em 1544, o humanista volta a Bordéus, possivelmente chamado pelo irmão André, para aí leccionar. Pouco tempo se queda nessa cidade, abalando para Tolosa (1545), com o intuito de estudar e ensinar Direito. Em Julho de 1549 está como professor em Cahors. Em 1555 encontra-se em Grenoble a ensinar Direito Civil. Mas, sentindo que é considerado suspeito de ter ideias reformistas, vai para Sabóia. Rege um curso de Direito em Mondovi (1562-1565) e faleceu quando se encontrava na cidade de Turim.
Além da sua defesa de Aristóteles, António de Gouveia publicou obras jurídicas de grande mérito: o De iure accrescendi liber (1545), ambos saídos em Tolosa, e as suas Opere Iuris Civilis (Lião, 1561). Notáveis são ainda os seus comentários sobre Virgílio, Terêncio e Cícero. Publicou ainda dois pequenos volumes de poemas, Epigrammaton libri duo (1539) e Epigrammata Epistolae Quatuor (1540).
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Lisboa, 1989
