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quinta-feira, 09-05-2024
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Biografia

Biografia
                  

Almeida Garrett  
[Porto, 1799 - Lisboa, 1854]  

Almeida Garrett
Nascido no Porto em 4 de Fevereiro de 1799, baptizado como João Leitão da Silva, o autor só mais tarde acrescentou ao seu nome o patronímico Baptista (em honra do padrinho) e os apelidos Almeida Garrett (o primeiro da avó materna; o segundo da avó paterna, de origem irlandesa) que o haviam de imortalizar na política, cultura e literatura portuguesas.

Durante a infância, passada até aos dez anos em Vila Nova de Gaia, entre a Quinta do Castelo e a Quinta do Sardão (ambas pertencentes à sua família), Garrett ouviu modinhas populares e composições da tradição oral, contadas e cantadas por duas criadas: a velha Brígida lembrada pelas suas «histórias da carochinha» em Viagens na minha Terra e a mulata Rosa de Lima, que surge no prefácio de «Adozinda» como recitadora «de maravilhas e encantamentos, de lindas princesas, de galantes e esforçados cavaleiros». Destas recordações de criança surgirá o seu gosto pelas tradições nacionais que o levaram desde muito novo a compilar os textos que mais tarde utilizou na edição do Romanceiro e Cancioneiro e incluiu em algumas das suas peças de teatro.

O pai de Garrett, António Bernardo da Silva, um funcionário superior da Alfândega, nascera na ilha do Faial, o que explica que a família tenha procurado refúgio na Ilha Terceira quando saiu do continente antes que as tropas Napoleónicas do general Soult tomassem o Porto. Nos Açores João Baptista estudou Latim e Grego, literatura clássica e filosofia, com dois tios: João Carlos Leitão e o poeta e humanista D. Frei Alexandre da Sagrada Família, que foi Bispo de Malaca e de Angra, e bispo eleito do Congo e de Angola. Sob a influência dos tios e desejo dos pais, o jovem Garrett pensa abraçar a carreira eclesiástica, ideia que depressa abandona por não se sentir vocacionado para sacerdote. Nas ilhas começou a escrever, sob o pseudónimo Josino Duriense, influenciado ainda pelo estilo clássico.

De regresso ao continente, em 1816 Garrett matriculou-se em Leis na Universidade de Coimbra, cidade onde fundou uma sociedade maçónica com Manuel da Silva Passos e José Maria Grande. Em Coimbra funda também um teatro académico e faz representar o seu drama Xerxes (que se perdeu) e a tragédia Lucrécia; na mesma época intenta a escrita de duas tragédias, Afonso de Albuquerque e Sofonisba, que deixou incompletas.

Concluída a formatura em Direito, parte em 1820 para Lisboa onde, participa na revolução liberal. Em 1821, durante a representação da tragédia Catão, conhece aquela que virá a ser sua mulher, Luísa Midosi, prima de seus amigos Luís Francisco e Paulo Midosi. Nesse mesmo ano, após a publicação do seu poema «Retrato de Vénus», Garrett é acusado nas páginas da Gazeta Universal pelo Padre José Agostinho de Macedo de ser «materialista, ateu e imoral»; em Coimbra é suspeito de abuso de liberdade de imprensa, pelas respostas que deu em sua defesa no periódico Português Constitucional Regenerado, acusação da qual sairá ilibado no início de 1822.

Este ano será muito fecundo para o jovem autor, que funda com o seu amigo Luís Francisco Midosi um jornal dedicado às senhoras portuguesas: O Toucador: periódico sem política, que apesar do subtítulo contém inúmeras referências mais ou menos subtis aos acontecimentos da política nacional. Não devem ser alheios aos conteúdos da folha as sessões da Sociedade Literária Patriótica, também então criada, e da qual fazem parte figuras de relevo do Partido Constitucional.

Em 1823, na sequência do levantamento miguelista conhecido como Vila-francada e do restabelecimento do absolutismo, Garrett tem de abandonar o seu cargo na Secretaria dos Negócios do Reino e é preso na Cadeia do Limoeiro, em Lisboa, partindo daí a pouco tempo para o exílio político, primeiro em Inglaterra, na cidade de Birmingham, e depois em França, no Havre. Garrett e a família vivem com muitas dificuldades, uma vez que o poeta apenas consegue emprego num banco, como correspondente comercial. Entretanto escreve e publica em Paris os poemas Camões (1825) e D. Branca (1826), influenciados pelas leituras que fez das obras de Shakespeare, Byron e Walter Scott durante o primeiro exílio inglês.

Com a morte de D. João VI em 1826 o escritor é amnistiado, podendo voltar ao reino quando desejar; regressa apenas depois da Outorga da Carta Constitucional e da abdicação de D. Pedro IV em sua filha D. Maria da Glória. Em Lisboa funda com Paulo Midosi o jornal O Português e escreve em O Cronista. O poeta e os dois irmãos Midosi são presos em 1827 devido aos seus artigos defensores do liberalismo, mas é no ano seguinte que, com o retorno de D. Miguel a Portugal que Garrett se vê obrigado a partir para um segundo exílio inglês. Desta vez, tendo por emprego o cargo de secretário particular do Duque de Palmela, também exilado, fixa-se em Plymouth. Em Londres publica Adozinda e Bernal Francês (mais tarde inseridos no Romanceiro) e a Lírica de João Mínimo (1829), que reúne poemas escritos desde a juventude. No mesmo ano, de novo com Paulo Midosi, redige um jornal, O Chaveco Liberal e inicia a escrita de Da Educação, que visava a instrução da jovem rainha D. Maria II para o cargo que ocupava. As suas preocupações políticas levam-no a reunir no volume Portugal na balança da Europa (Londres, 1830) os artigos que publicara em O Português. O seu percurso jornalístico continua em 1831, desta vez nas páginas de O Precursor. Prepara em Paris, com outros exilados, a expedição que, partindo dos Açores, visa o fim do miguelismo.

Em 1832, integra com Alexandre Herculano o corpo académico de voluntários que constitui na Ilha Terceira a oposição liberal. Garrett é um dos expedicionários que em Julho daquele ano desembarcam no Mindelo e libertam o Porto. Inicia a escrita do seu primeiro romance, O Arco de Sant' Ana que, segundo diz, se baseia num antigo manuscrito encontrado no Convento dos Grilos, onde os expedicionários se aquartelavam. O romance descreve uma sublevação popular contra o Bispo do Porto – senhor da cidade – coadjuvada por D. Pedro I e liderada por um jovem estudante posto à frente da população burguesa que enfrenta o suserano da cidade. É quase impossível não estabelecer um paralelo entre a narrativa medieval e os acontecimentos coevos da escrita do romance, com D. Pedro IV à frente do batalhão de estudantes saídos da burguesia, lutando contra a prepotência absolutista. O primeiro volume de O Arco de Sant' Ana só foi publicado em 1845 e o segundo apenas cinco anos mais tarde, traçando o autor, no primeiro capítulo do tomo de 1850, os motivos que demoraram a edição, a que decerto não foi alheia a revolta da Maria da Fonte e a guerra civil patuleia de 1846.

Em 1834 Garrett vive na Bélgica onde é Consul-Geral e Encarregado de Negócios de Portugal. Naquele país Garrett entra em contacto com as obras dos grandes escritores românticos alemães, como Goethe e Schiller, que muito influenciaram o seu estilo literário e a sua concepção de arte.

De regresso a Portugal, em 1836, separa-se de Luísa Midosi e passa a viver com Adelaide Pastor Deville, com quem terá uma filha. Após a Revolução de Setembro é eleito deputado às cortes constituintes e nomeado por Passos Manuel Presidente do Conservatório de Arte e Inspector-Geral dos Teatros, tendo nesse mesmo ano dirigido à rainha D. Maria II o seu projecto para a criação de um Teatro Nacional. O projecto para a renovação da Arte em Portugal é descrito no prefácio de Um Auto de Gil Vicente (1838), primeira das contribuições do autor para o reportório de peças com fundas raízes nacionais que crê serem imprescindíveis para criar no povo português o amor pelo teatro; a esta peça seguir-se-á Filipa de Vilhena, representado em 1840, o mesmo ano em que Garrett é nomeado Cronista Mor do reino. A sua vida divide-se entre a escrita e a política, mas é esta última que lhe causa maiores dissabores: o ministro António José de Ávila propõe em 1841 a dissolução do Conservatório; o deputado Almeida Garrett responde-lhe directamente – no dia seguinte é demitido de todos os seus cargos.

Em 1843 a Revista Universal Lisbonense publica em folhetins a primeira parte do romance Viagens na minha Terra (obra cuja edição só ficou concluída em 1846), inspirada por um passeio ao Ribatejo, numa visita a Passos Manuel, então na oposição ao governo de Costa Cabral. A primeira representação de Frei Luís de Sousa, com Garrett no papel de Telmo, acontece também em 1843, no Teatro da Quinta do Pinheiro. A tragédia é publicada no ano seguinte, 1844, três anos após a morte de Adelaide Deville, quando o autor conhece Rosa Montufar Barreiros, viscondessa da Luz, por quem se apaixona, a quem dirige cartas de exacerbado desejo e que lhe inspira o volume Folhas Caídas.

Nos anos do cabralismo e seguintes, afastado da política, frequenta a sociedade elegante e escreve as peças Tio Simplicio, Falar Verdade a Mentir, Um noivado no Dafundo. Em 1848 é representada no Teatro de D. Maria II A sobrinha do Marquês, logo a seguir publicada. Com Alexandre Herculano, Rodrigues Sampaio, Rebelo da Silva e José Estevão, é nomeado para a redacção de um novo projecto de lei eleitoral em Maio de 1851. Em Junho é nomeado ministro plenipotenciário para as negociações junto à Santa Sé e feito Visconde de Almeida Garrett. O governo francês concede-lhe o diploma de Grande Oficial da Legião de Honra. O sonho do autor de ver publicada a sua obra de recolha etnográfica concretiza-se enfim naquele ano, com a publicação dos tomos II e III do Romanceiro.

De novo eleito deputado em 1852, Almeida Garrett escreve, e lê na Câmara, o «Discurso de Resposta ao Discurso da Coroa», tendo logo a seguir sido nomeado Par do Reino. Com o inicio da Regeneração, assiste à publicação do Acto Adicional à Carta e é nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros, lugar do qual se demite pouco tempo depois. Publica diversos Estudos. No ano seguinte regressa à administração do Teatro Nacional, mas demite-se a pedido dos actores e autores. São de 1853 as duas edições de Folhas Caídas (a segunda com o título Fábulas: Folhas Caídas. Garrett está já muito doente quando começa a escrever aquele que seria o seu terceiro romance, Helena. Apesar de o seu estado de saúde se agravar de dia para dia, apresenta ainda o Relatório e Bases para a Reforma Administrativa e profere, na Câmara dos Pares a resposta ao Discurso da Coroa de 1854. Morre nesse ano, em 9 de Dezembro.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
12/2004