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quinta-feira, 09-05-2024
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Biografia

Biografia
                  

Gil Vicente  
[Guimarães, 1465?]  

Autor dramático, considerado o fundador do teatro português.

A sua biografia é mal conhecida e levanta vá­rios problemas, sendo o principal o da identificação do teatrólogo com um outro Gil Vicente, ourives célebre, que fez a Custódia de Belém (1506) com o ouro das «páreas» entregues pelo rei de Quíloa e trazidas por Vasco da Gama no regresso da sua segunda viagem a Índia. Tem-se discu­tido muito se são uma e a mesma pessoa, ou se duas per­sonagens diferentes. Anselmo Braancamp Freire sustenta que o homem de teatro é o ourives. Fundamenta a sua afirmação numa carta de D. Manuel, datada de Évora a 4 de Fevereiro de 1513, onde o rei nomeava Gil Vicente, ourives da rainha D. Leonor, sua irmã. No alto da carta anotada pela mão de um funcionário da Chancelaria Real vem a indicação «G. V., trovador mestre da balança». Para Braamcamp Freire, esta menção é decisiva, e desenvolve uma argumentação muito persuasiva no sentido de prover que as duas funções eram exercidas pela mesma pessoa.

O autor dos autos, tal como o ourives, esteve durante muito tempo ao serviço da «Rainha Velha», D. Leonor. Ela encontrava-se presente na câmara da rainha D. Maria, a 7 de Junho de 1502, quando ali foi apresentado o Mo­nólogo do Vaqueiro, primeira obra conhecida de Gil Vi­cente. Para D. Leonor foram compostos o Auto em Pasto­ril Castelhano (1509), o Auto dos Reis Magos (1510), o Auto de S. Martinho (1504) e o Auto da Índia, representado em Almada em 1509. Igualmente para ela, ou a seu pedido, foram escritos a Barca do Inferno (1517), o Auto da Alma (1518), a Barca do Purgatório (1518) e o Auto dos Quatro Tempos (antes de 1521). Só em 1521 passa Gil Vicente directamente para o serviço do rei, D. Manuel I, continuando a exercer as suas funções durante o reinado de D. João III.

A obra dramática de Gil Vicente é, portanto, um teatro de corte, que se conforma com as regras e as práticas ine­rentes a esse género. Conhecemos a sua obra através da Copilaçam de Toda­las Obras de Gil Vicente (Lisboa, 1562), que foi postuma­mente publicada por Paula Vicente e seu irmão Luís, filhos do segundo matrimónio do poeta. Existem, no en­tanto, alguns autos que vieram a lume em folhas volantes sob a orientação do autor, qual é o caso da Barca do Inferno, e a colação que entre este e o texto da Copilaçam se tem feito não deixa dúvidas quanto às incorrecções que nesta edição se contêm. Convém notar que toda a obra de Gil Vicente é anterior ao estabelecimento da Inquisição em Portugal, pois a sua primeira peça data de 1502 e a úl­tima de 1536. Com a sua obra se preocupou a Inquisição, introduzida em 1536, que lhe proibiu algumas peças. Das que saíram em forma de folhas volantes, três foram supri­midas, incluindo o auto do Jubileu de Amores, represen­tado em Bruxelas em 21 de Dezembro de 1531 na Embai­xada de Portugal. Por outro lado, a Copilaçam apresenta uma divisão da obra de Gil Vicente que não é, de maneira nenhuma, aquela que ele lhe atribui (comédias, farsas e moralidades) no prólogo, em castelhano, de Dom Duardos (1522?) Uma segunda edição, saída em Lisboa, em 1586, foi profundamente mutilada pela censura inquisitorial, nada de novo trazendo ao nosso conhecimento do autor.

Obra complexa, muito rica na diversidade dos tipos hu­manos apresentados e nos quais se encontra toda a socie­dade portuguesa do início do século XVI, com excepção dos mercadores, talvez porque a classe mercantil era essencialmente constituída por cristãos-novos, ela é uma mag­nificente realização literária. A Igreja, o papado, os próce­res do mundo – de que os Autos das Barcas e o Auto da Feira nos oferecem uma impressionante visão –, são implacavelmente representados nas suas vaidades, loucuras e viciosa conduta, que suscitam o riso e impõem a refle­xão. Mas Gil Vicente é também um poeta lírico de fina sensibilidade e aguda percepção psicológica. As suas figu­ras femininas, como, por exemplo, Inês Pereira ou a prin­cesa Flérida, têm uma vida interior que o tempo não con­seguiu esbater.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
06/2004