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sábado, 06-07-2024
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Biografia

Biografia
                  

Francisco de Sá de Miranda  
[Coimbra, 1481 - Amares?, 1558]  

Sá de Miranda
Poeta e comediógrafo que introduziu o novo estilo italiano do Renascimento em Portugal. As suas vicissitudes biográficas ainda não estão devidamente apuradas. Sabe-se que nasceu, de certeza, antes de 1490, mas ignora-se o ano exacto. Já bastante enfermo, vivia ainda em Maio de 1558, tendo falecido depois dessa data. Frequentou muito provavelmente a Universidade, em Lisboa, onde terá obtido o grau de doutor, pois assim aparece designado no Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende. Em 1521 visita a Itália, onde permanece até 1526. No seu regresso aparta-se da corte e fixa residência na Quinta das Duas Igrejas, na margem esquerda do Neiva. Em 1530, já casado, transita para a Quinta da Tapada.

Entre estes dois retiros vai elaborar a sua obra. Nela apresenta novos metros, géneros e subgéneros (a carta, a canção, a elegia, a écloga) na poesia portuguesa. Adapta o decassílabo à língua portuguesa; introduz o terceto, a oitava e o soneto. Se seguiu de perto a lição dos italianos, verdade é que Sá de Miranda não deixou menos de acompanhar as inovações de Boscán e Garcilaso em Espanha. De Garcilaso se considerava mesmo devedor, embora essa divida constitua essencialmente mais um estímulo para o que entendia fazer em Portugal.

Poeta da chamada «medida nova», Sá de Miranda limava demoradamente o verso, apurava-o na forma e afinava-o na eufonia. Algumas das suas éclogas (Célia, Andrés, Nemoroso e Encantamento) estão repassadas de uma funda melancolia em que a natureza não é um cenário de fundo para as mágoas dos seus pastores, mas um significante passível de várias leituras no contexto dos poemas. A ambiguidade constitui um permanente desafio ao leitor, o que confere à sua poesia um insuspeitado cunho de modernidade. As suas Cartas em verso revelam a faceta do moralista e do patriota, atento à erosão dos valores castiços, que defende e considera essenciais à continuidade do carácter nacional.

Sá de Miranda é poeta bilingue, tal como o será Camões, escrevendo algumas das suas composições em castelhano. Só António Ferreira se impôs o patriotismo linguístico de escrever unicamente em português. Mas o bilinguismo é compreensível no espírito da ecumenicidade cultural que reinava então na Península Ibérica.

Como comediógrafo, Sá de Miranda produziu duas obras em prosa, Estrangeiros e Vilhalpandos, publicadas respectivamente em 1526 e 1559. Estas peças iniciam a comédia clássica em Portugal, mas falta-lhes o verdadeiro sentido de teatro, estando demasiado apegadas às formas estereotipadas dos modelos plautino e terenciano.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. I, Lisboa, 1989