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quinta-feira, 25-04-2024
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Biografia

Biografia
                  

Almeida Faria  
[Montemor-o-Novo, 1943]  

Fotografia de Almeida Faria por Luísa Ferreira
Ficcionista revelado na década de sessenta, quando arrebatou, aos dezanove anos de idade, o Prémio de Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores com o romance Rumor Branco, Almeida Faria tem publicado, regular mas espaçadamente ao longo dos últimos três decénios, alguns romances marcantes do nosso panorama literário.

A sua obra pode ser considerada, grosso modo, em dois momentos distintos, correspondendo o primeiro aos anos sessenta, com Rumor Branco (1962) e A Paixão (1965) e o segundo a uma fase mais «amadurecida» ou distanciada que se iniciou significativamente com Cortes (publicado, após um lapso temporal de treze anos, em 1978). O próprio autor considera actualmente o seu primeiro romance, fortemente marcado por influências do noveau roman e de Joyce, como «profundamente romântico e caótico» e «ostensivamente experimental», por contraposição a uma experiência mais controlada, «menos marcada pelo vivido imediato» que determinará o maior depuramento formal patente em Cortes e nas obras subsequentes.

O núcleo central da obra de Almeida Faria é, até ao momento, a «Tetralogia Lusitana», contituída pelos já referidos A Paixão e Cortes e ainda por Lusitânia e Cavaleiro Andante. A «Tetralogia Lusitana» narra a saga familiar, antes e depois da revolução de Abril de 1974, de um «clã semi-feudal» de latifundiários alentejanos em decadência. A desagregação familiar, iniciada com a morte do pai e continuada com a dispersão dos restantes elementos pelo mundo, depois de Abril, numa nova diáspora portuguesa para pátrias de refúgio (fogem para Lisboa, para Veneza, para Luanda, para São Paulo, para um universo onírico onde todos os terrores são projectados, no caso dos elementos mais novos da família), transformam, a partir de Lusitânia, livro onde o tempo da acção se inicia precisamente em Abril de 74, esta narrativa em romance epistolar. Lusitânia e Cavaleiro Andante são assim constituídos por cartas entre os membros da família. Cartas onde se trocam observações e reflexões, em tom geralmente desencantado e irónio, sobre o tempo histórico e humano que vão atravessando, um tempo que, na sua explosão de coisas reprimidas, parece asfixiar a possibilidade do amor, atacar e cilindrar todos os excedentes do «processo revolucionário em curso». Devido a este aspecto – aliás, muito interessante, pois os «anos quentes» da revolução têm sido normalmente vistos nos romances portugueses das últimas décadas (exceptuando os casos, em registos diferentes, de Almeida Faria e Agustina), numa perspectiva diversa, por vezes mesmo oposta, «do outro lado da barricada» – Cavaleiro Andante foi já classificado como «romance-crónica (ou crónica romanceada) sobre as modernas gerações de portugueses desavindos com a pátria» (Júlio Conrado).

Almeida Faria tem visto no entanto a sua obra suscitar por parte da crítica uma recepção nem sempre pacífica, a começar pela polémica – a que Rumor Branco serviu de pretexto – mantida em 1962, ao longo de quase dois meses, entre Vergílio Ferreira (que prefaciou a obra, «apadrinhando» a entrada no mundo das letras deste seu ex-aluno de liceu) e Alexandre Pinheiro Torres, nas páginas do Jornal de Letras e Artes. Mais do que propriamente do romance, foi das concepções filosóficas e políticas dos polemistas que fundamentalmente se tratou, parecendo pacífico e evidente o valor do novo romancista. Também O Conquistador (1990) – livro onde são narradas as incontáveis incursões eróticas de um sósia paródico de D. Sebastião, nascido sob o signo do prodígio em 1954 – motivou, por parte da crítica nacional (e contrariando a recepção obtida no exterior), expressões fortes, a denotarem irritação pelo inflectir numa direcção totalmente diversa (para um fantástico que se pretende irónico, de estilo leve mas reflexivo) do autor da «Tetratologia Lusitana».

Almeida Faria é actualmente professor de Filosofia na Universidade Nova de Lisboa.

Foi galardoado, em 2000, com o Prémio Vergílio Ferreira, da Universidade de Évora, pelo "carácter profundamente inovador" das suas narrativas.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
02/2000