Júlio Dinis
[Porto, 1839 - Porto, 1871]
Júlio Dinis é o principal pseudónimo literário de Joaquim Guilherme Gomes Coelho (sendo o outro Diana de Aveleda). A ascendência inglesa por parte da mãe e a morte desta, em 1844, são elementos que na vida literária de Júlio Dinis não deixarão de ser significativos. Em 1855 matricula-se na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde completará o curso com altas classificações. A tuberculose, que já vitimara Ana Constança Potter, mãe de Júlio Dinis, mata igualmente, ainda em 1855, dois irmãos do autor.
Em 1856 escreve as suas primeiras obras dramáticas e em 1858 as suas primeiras novelas, que juntamente com outras posteriores constituirão o volume Serões da Província. A tuberculose, que também o viria a vitimar, manifesta-se-lhe pela primeira vez em 1856, agravando-se a partir de 1860, ano em que surge o seu principal pseudónimo. Em 1861 defende tese de licenciatura e em 1863 pensa ocupar um cargo na Escola, ideia de que é forçado a desistir por imperativos de saúde e que só virá a concretizar-se dois anos depois. A partir de 1860 começara, entretanto, a colaborar em alguns jornais, publicando poemas, mas é a partir de 1862 que se inaugura a sua frutuosa colaboração no Jornal do Porto, com a publicação de algumas novelas que aparecerão posteriormente no volume Serões da Província. É durante uma estada em Ovar em 1863, para recuperação da doença, que realiza o esboço de As Pupilas do Senhor Reitor e A Morgadinha dos Canaviais; Uma Família de Ingleses (assim era o seu título, original) tinha já sido iniciado por volta de 1858/1859. É na Madeira, aonde se desloca ainda por motivos de saúde, em 1869/1871, que é concebida a obra Os Fidalgos da Casa Mourisca, de cujas provas Júlio Dinis já não chega a efectuar a revisão completa. Os seus romances, com excepção deste último, apareceram todos em folhetins no Jornal do Porto (As Pupilas do Senhor Reitor em 1866, Uma Família de Ingleses em 1867, A Morgadinha dos Canaviais em 1868), antes de terem sido publicados em volume.
Pelas próprias circunstâncias de saúde que sempre condicionaram toda a carreira literária de Júlio Dinis, a obra deste autor apresenta características que lhe são específicas. Com efeito, a sua capacidade de produção é notável, se tivermos em conta que morreu com 32 anos incompletos. O mesmo facto, por outro lado, traz à sua obra um modo relativamente constante na maneira de conceber o romance e as intrigas que lhe servem de base. As suas narrativas, com excepção de Uma Família Inglesa, cujo cenário é o Porto, desenrolam-se num ambiente onde a rusticidade desempenha papel fundamental. Não é, aliás, por acaso que normalmente se apontam como antecessores de Júlio Dinis nesta via O Pároco de Aldeia de Herculano e Os Contos do Tio Joaquim de Rodrigo Paganino. Se a intriga sentimental das obras de Júlio Dinis é facilmente convertível a um esquema de base relativamente fixo, onde é visível a manutenção de certos pressupostos de cariz romântico, por outro lado o autor demonstra aguda capacidade de observação na notação de ambientes e pormenores sociais e pitorescos e ainda um certo modo irónico mas ao mesmo tempo risonho que constituem indubitavelmente, na literatura portuguesa, características inovadoras e, até, de relativa raridade.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990