Ignorar Comandos do Friso
Saltar para o conteúdo principal
sexta-feira, 09-05-2025
PT | EN
República Portuguesa-Cultura Homepage DGLAB

Skip Navigation LinksPesquisaAutores1

Biografia

Biografia
                  

Manuel Teixeira Gomes  
[Portimão, 1860 - Bougie, Argélia, 1941]  

Manuel Teixeira-Gomes
Neto, pelo lado paterno, de um combatente de Waterloo, Manuel Gomes Xavier, oficial do exército napoleónico, e filho de José Libânio Gomes, rico comerciante algarvio, estudou em Portimão, no Colégio de S. Luís Gonzaga, até aos 10 anos, idade em que transitou para o Seminário de Coimbra, onde fez aprofundados estudos clássicos e os preparatórios de Medicina. Não havia, porém, de completar este curso, preferindo à frequência regular das aulas uma descabelada boémia literária, a insistente leitura nas bibliotecas e a descoberta de museus e monumentos.

Após o serviço militar, privando com Sampaio Bruno, Teófilo Braga, Malheiro Dias, António Nobre, João de Deus e outras das maiores figuras intelectuais da época, acaba por regressar a Portimão e passa a colocar no estrangeiro o figo seco da empresa a que seu pai preside. Assim viaja pelo Norte da França, Países Baixos e Alemanha, principalmente durante o Inverno, reservando o tempo mais ameno para longas e deliciosas peregrinações pelas costas do Mediterrâneo, pela África muçulmana, pela Ásia Menor, para descansar por fim no seu bem-amado Algarve, que compara à paisagem grega ideal, aquela que os poetas da antiguidade helénica povoaram de mitos graciosos e de deuses à humana medida.

Serviram a Teixeira-Gomes essas muitas jornadas de contemplações estéticas e de dissipação erótica para adquirir uma extensa cultura, invulgar no seu tempo em Portugal e que viria a projectar-se numa obra literária requintadamente original.

Após cerca de vinte anos de andanças pelo Mundo, ligou-se a Belmira das Neves, de quem teve duas filhas. Sobreveio um período sedentário nesse paraíso do Barlavento que havia de aparecer exaltado, em quadros de uma transfiguradora harmonia, nalguns dos primeiros livros de M. Teixeira-Gomes: Inventário de Junho, Agosto Azul.

Os contos de Gente Singular, que deram celebridade ao seu autor, valem pela ironia, pelo humor solto, por vezes a roçar o fantástico, e pela vibração sensual, pelo frémito vitalista que percorre seres e paisagens. As estesias de Teixeira-Gomes fundem-se numa prosa de equilibrada elegância, clássica pelo ordenamento e pela perspectiva, por vezes impressionista pelo puntilhismo das impressões avulsas, não raro barroca pela eufórica acumulação de elementos e pelas transposições metafóricas. Um aparelho verbal dos mais belos e sugestivos de toda a nossa literatura.

Porém, essa obra literária que se espraia já pela epistolografia – Cartas sem Moral Nenhuma – e pelo texto dramático – Sabina Freire – vai ser interrompida pela Revolução Republicana de 1910. Democrata convicto, Teixeira-Gomes aceita em 1911 o cargo de ministro em Londres, onde defende e prestigia a jovem República portuguesa. Em 1914 negoceia com o Governo inglês a entrada de Portugal na guerra. Durante o interregno sidonista é demitido compulsivamente e chamado a Lisboa, onde chega a ficar preso, em cárcere privado. Após a morte de Sidónio Pais é nomeado ministro em Madrid, mas nesse mesmo ano de 1919 regressa ao seu posto diplomático em Londres. Participa então na Conferência da Paz em Versalhes e é delegado à Sociedade das Nações.

Em 1923 é eleito Presidente da República, com o apoio do Partido Democrático. Nessas altas funções Teixeira-Gomes dá frequentes provas de tacto, de coragem, de independência e fidelidade à Constituição, enfrentando um período de dissenções partidárias e de intentonas militares; acaba por resignar, em 1925. Segue-se um período de novas e longas viagens, que se tornaria em exílio voluntário e definitivo com a ditadura militar de 1926 e a evolução para o fascismo em 1932.

Teixeira-Gomes retoma então, de longe e sem livros de apoio, a obra memorialística, epistolar, por vezes quase autobiográfica, que abandonara quinze anos antes. Em 1931 fixa-se em Bougie. Surgem, já depois dos 70 anos de M. Teixeira-Gomes, alguns dos seus livros mais importantes, entre eles as Novelas Eróticas, onde figuram textos dos mais significativos, uns beirando o fantástico, como «A Cigana», tratando outros a volúpia e o desencontro e outros ainda reproduzindo o mundo rural algarvio, como «O Sítio da Mulher Morta».

Maria Adelaide, apreendido pela Censura, é o seu único romance, que oscila entre a ternura e a crueldade na análise de uma relação de mancebia e da sua degradação.

No campo do livro fragmentário de heterogéneo feitio, onde predominam as cartas, as notas de canhenho, os juízos epigramáticos e as impressões de arte, atinge M. Teixeira-Gomes o ponto mais alto da sua geração, pela educada ironia, pela variedade e solidez da sua cultura: Miscelânea, Carnaval Literário, etc.

Em 1941, já quase cego, vivendo, só, num hotel de Bougie, firme na tenção de não voltar à Pátria privada de liberdade, extingue-se Teixeira-Gomes, epicurista e estóico, corredor de mundos, sempre enamorado da vida.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990