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quarta-feira, 04-12-2024
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Biografia

Biografia
                  

Luísa Dacosta  
[Vila Real, 1927 - Matosinhos, 2015]  

Maria Luísa Saraiva Pinto dos Santos (Ferreira da Costa pelo casamento), que adoptaria o nome literário de Luísa Dacosta, nasceu em Vila Real de Trás-os-Montes, em 1927. Formada em Histórico-Filosóficas, foi professora de Língua Portuguesa, no 2.º ciclo do Ensino Básico, em escolas do Porto.

É autora de uma obra literária (para adultos) de qualidade reconhecida pela crítica, várias vezes premiada, cujo primeiro volume, Província, foi editado em 1955. Nos contos, nas ficções mais longas, nas crónicas (A-Ver-O-Mar: Crónicas, 1981; Morrer a Ocidente: Crónicas, 1990) e nos seus dois volumes de diário (Na Água do Tempo: Diário, 1992; Um Olhar Naufragado: Diário II, 2008), oscila entre uma prosa realista e uma prosa intimista, de fundo autobiográfico, apresentando uma «escrita perto, muito perto, do coração das coisas» (Morão, 1993: 121).

Luísa Dacosta recebeu a Medalha de Mérito da Cidade do Porto e, em 2002, viu a qualidade da sua obra literária consagrada pela atribuição do Prémio «Uma Vida Uma Obra» da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. Em 2004, por ocasião dos trinta anos do 25 de Abril e dos 150 anos da morte de Almeida Garrett, e com base na decisão de um júri nomeado para o efeito, a Cooperativa Artística Árvore promoveu homenagens a diversas personalidades do Porto que, nas três últimas décadas, se haviam destacado em áreas diversas. Luísa Dacosta foi a personalidade distinguida na área da Educação. Foi galardoada ainda com o Prémio Máxima, pelo seu volume de diário Na Água do Tempo e, pela sua carreira literária, com o Prémio Vergílio Ferreira de 2010, atribuído pela Universidade de Évora.

Também nos textos que Luísa Dacosta escreveu para o público infanto-juvenil, a busca empreendida é «a da essência do humano, descoberta e resgatada à contingência desse tempo frequentemente sombrio que é o nosso» (Gomes, 1991: 49). Assim, exorta valores e sentimentos universais e intemporais, como sejam os da amizade, da beleza, da alegria, da imaginação, do sonho e da liberdade (note-se que a divisa «no sonho, a liberdade…» antecede cada um da quase totalidade dos volumes para crianças). Para o fazer, ora cria um mundo de seres fantásticos (como o são O elefante cor de rosa, a bruxinha de História com recadinho ou A menina coração de pássaro), ora recria o quotidiano de meninos e de meninas, do campo ou da cidade, focalizando o olhar em objectos banais, provocadores da imaginação (casos da gancheta do Príncipe que guardava ovelhas ou do passarinho de brincar da menina de Sonhos na palma da mão), em narrativas poéticas quase isentas de intriga.

Em todos os textos daqueles volumes, proliferam incontáveis recursos expressivos (metáforas, comparações, imagens, sinestesias, animismos, aliterações ou repetições), sendo, contudo, de salientar a deslumbrante criatividade lexical (dada por neologismos frequentes, por exemplo). Àqueles recursos alia-se a destreza de sintaxe e, no plano técnico-narrativo, a variedade de focalizações. Por outro lado, a dimensão intertextual de vários dos seus livros, ligando-os ora a As Mil e Uma Noites, ora a Hans Christian Andersen, por exemplo, constitui outra das imagens de marca desta escrita, visível em Sonhos na palma da mão, A rapariga e o sonho e O perfume do sonho na tarde, para apenas apontar três casos.

Luísa Dacosta é, ainda, autora de outros tipos de textos para crianças. Em Lá vai uma… lá vão duas…, obra distinguida com o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças em 1994, reconta, recriando-os, textos da tradição oral; as marcas de oralidade ruralizante, tão queridas da autora, brilham aqui mais do que nunca. Em Teatrinho do Romão e em Robertices, recria, em linguagem dramática, outros contos ou peças breves da tradição popular portuguesa. Um texto de cariz histórico, A batalha de Aljubarrota, embora com os singulares traços estilísticos que descobrimos noutras obras, é outra área de intervenção explorada pela Autora para os mais pequenos.

Saliente-se, por último, o seu valioso trabalho de antologiadora. As quatro antologias De mãos dadas, estrada fora…, hoje reunidas em dois volumes e iniciadas em 1970, feitas para serem lidas pelo público infanto-juvenil, não têm outras que com elas rivalizem, em profusão ou em apurado gosto estético. São antologiados textos de diferentes géneros e séculos, de autores de língua portuguesa. Cada um desses textos é acompanhado de cuidadosas sugestões de leitura; nelas se vislumbra o deslumbramento pela palavra desde sempre presente também na sua escrita.

Registe-se ainda o esmerado aspecto gráfico e ilustrativo dos livros que publicou e a circunstância de sempre ter feito parcerias com grandes pintores e ilustradores como Armando Alves, Jorge Pinheiro, Manuela Bacelar, Ângela Melo, André Letria ou Cristina Valadas.


Bibliografia selectiva: O príncipe que guardava ovelhas (1970), Porto: Figueirinhas; O elefante cor de rosa (1974), Porto: Figueirinhas, 1974; Teatrinho do Romão (1977), Porto: Figueirinhas; A menina coração de pássaro, (1978), Porto: Figueirinhas; A batalha de Aljubarrota (1985), Porto: Civilização; História com recadinho (1986), Porto: Figueirinhas; Sonhos na palma da mão (1990), Porto: Porto Editora; Lá vai uma... lá vão duas… (1993), Porto: Civilização; Robertices (1995), Porto: Desabrochar; A rapariga e o sonho (2001), Porto: ASA; O perfume do sonho na tarde (2004), Porto: ASA; O rapaz que sabia acordar a primavera (2007), Porto: ASA.
[Violante Magalhães]
02/2012