Ignorar Comandos do Friso
Saltar para o conteúdo principal
terça-feira, 23-04-2024
PT | EN
República Portuguesa-Cultura Homepage DGLAB

Skip Navigation LinksPesquisaAutores1

Biografia

Biografia
                  

Papiniano Carlos  
[Lourenço Marques, Moçambique, 1918 - Porto, 2012]  

Papiniano Carlos nasceu em Moçambique, em Lourenço Marques, actual cidade de Maputo, em 1918, tendo aí efectuado a sua instrução primária. Os estudos secundários viriam a ser realizados no Porto. Frequentou, ainda, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, não tendo concluído o curso. É nos arredores da cidade do Porto que ainda hoje vive, mais exactamente em Pedrouços (Maia).

Poemas seus foram musicados por Fernando Lopes-Graça, integrou o movimento neo-realista e viu alguns dos seus livros proibidos pela Censura, durante a ditadura de Salazar e Marcelo Caetano, chegando a ser detido pela PIDE, polícia do regime político que vigorou em Portugal entre 1926 e o 25 de Abril de 1974.

Papiniano Carlos tem-se assumido, ao longo da vida, como um cidadão interveniente, activo, preocupado com o exercício da cidadania na sua plenitude. No período da ditadura, a sua intervenção cívica pautou-se pela luta em prol da liberdade de expressão e de pensamento. Foi também delegado do Movimento Português para a Paz e a Cooperação em várias conferências internacionais.

Da sua actividade literária salienta-se a colaboração em diversos jornais, revistas e fascículos de poesia, tais como Seara Nova, Vértice e Notícias do Bloqueio, tendo sido um dos directores desta última publicação. Os seus escritos tornam-se públicos, pela primeira vez, no início dos anos quarenta. Editará contos (Terra com sede, 1946), crónicas (A rosa nocturna, 1960), um romance (O rio na treva, 1975) e poesia (vários títulos antologiados em (A ave sobre a cidade, de 1973). A sua sensibilidade às questões sociais e o fascínio pela marcha do Homem ao longo da História perpassam muitos dos seus textos. A terra natal, Moçambique, serviu-lhe de «musa» inspiradora de diversos poemas em que por vezes a infância, como tópico, marca presença. Registe-se, aliás, que foi um dos divulgadores, em Portugal, de poetas moçambicanos e angolanos, no final da década de cinquenta.

Autor de vários títulos dirigidos ao público infantil, tem cultivado sobretudo o conto e a poesia, explorando, neste caso, uma vertente simultaneamente épica e lírica. Hoje é possível afirmar que, juntamente com Sidónio Muralha, Ilse Losa, Alves Redol, Matilde Rosa Araújo e Maria Rosa Colaço, Papiniano Carlos contribuiu para a renovação da literatura portuguesa para crianças operada entre finais dos anos quarenta e a década de sessenta, por efeito da influência neo-realista e da consequente introdução de novos temas (de cunho social, mas não só) e de novas personagens infantis (crianças de meios sócio-económicos desfavorecidos, por exemplo). Na sua escrita – em que avulta um livro de assinalável sucesso, objecto de numerosas reedições, A menina gotinha de água –, observa-se uma atenção particular a tópicos de cunho «científico» (ciclo da água, circulação do sangue, electricidade…), à luta por objectivos generosos do ponto de vista cívico e civilizacional (O grande lagarto da Pedra Azul) ou ainda à questão do génio artístico (Luisinho e as andorinhas). Entre a criação de narrativas poéticas (vejam-se os títulos de 1963 e 1977) e a incursão num género em que fantástico e «ficção científica» se entretecem (como acontece em (O grande lagarto da Pedra Azul, narrativa em que perpassam preocupações ambientais), se desenhou um percurso literário que engloba ainda um poema dramático (Uma estrela viaja sobre a cidade), inicialmente editado para adultos, na década de cinquenta, mas convertido em livro infantil em 2010, por via do aparato paratextual (ilustrações de Elsa Lé (v.) e formato de álbum, entre outros aspectos).


Bibliografia selectiva: A menina Gotinha de Água (1963), Lisboa: Portugália; O cavalo das sete cores e o navio (1977), [Lisboa]: A Opinião; Luisinho e as andorinhas (1977), [Lisboa]: ABLivro; O grande lagarto da Pedra Azul (1986), Lisboa: Caminho; A viagem de Alexandra (1989), Porto: Porto Editora; “A gaivota branca” (2001), in J. A. Gomes (org.), Contos da cidade das pontes, Porto: Ambar, pp. 59-60; Era uma vez (2001), Porto: Campo das Letras; Uma estrela viaja sobre a cidade (2010), Porto: Trinta por Uma Linha.
[Maria Elisa Sousa; José António Gomes]
02/2012