Agustina Bessa-Luís
[Vila Meã, Amarante, 1922]
Agustina Bessa-Luís nasceu a 15 de Outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante. Dela António José Saraiva afirma ser, depois de Fernando Pessoa, o segundo milagre do século XX português (Iniciação à literatura portuguesa, Mem Martins: Europa-América, 1996, p. 158), referindo-se à originalidade e densidade literária da sua obra romanesca, constituída por mais de quatro dezenas de títulos, a que se somam peças de teatro, biografias, ensaios, livros de viagens e de crónicas. Da sua obra de ficção narrativa para adultos, refiram-se apenas alguns títulos como A sibila (1954), As pessoas felizes (1975), Fanny Owen (1979), O mosteiro (1980), Os meninos de ouro (1983), Vale Abraão (1991), Ordens menores (1992), Um cão que sonha (1997), entre muitos outros que poderiam ser mencionados. Pelo relevo da sua criação ficional falam os numerosos prémios que a têm distinguido, dos quais se destacam o Prémio Delfim Guimarães (1953), o Prémio Ricardo Malheiros (Academia das Ciências de Lisboa) (1966 e 1977), o Prémio «Adelaide Ristori» (Centro Cultural Italiano de Roma) (1975), o Prémio Pen Club Português de ficção (1980), o Prémio D. Dinis (Casa de Mateus) (1980), o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (1983), o Prémio da Crítica (Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários) (1993), o Prémio União Latina (Itália) (1997) e o Prémio Camões (2004), o mais importante galardão literário da língua portuguesa.
Com obras traduzidas em vários países e algumas adaptadas quer à linguagem cinematográfica (por Manoel de Oliveira, por exemplo), quer à linguagem teatral, também produziu textos expressamente destinados a crianças. As características omniscientes e demiúrgicas dos seus narradores contribuem para uma quebra da organização canónica do texto, em que vários espaços e tempos se entrecruzam na tentativa de explicação dos comportamentos assumidos pelas personagens. Estas, por sua vez, caracterizam-se por uma força vital assombrosa ou, pelo contrário, por uma fragilidade, uma impotência perante a vida, que ainda vem reforçar as características das personalidades dominadoras. É essa força telúrica que transforma as suas personagens em personagens mágicas que reorganizam o mundo à volta delas. Os seus textos narrativos são construídos através da integração de longos momentos descritivos em que a autoridade do saber do narrador se impõe, como se as suas caracterizações físicas, psicológicas ou sociais ultrapassassem, transcendessem os atributos possíveis de cada personagem ou de cada espaço.
Nos contos para crianças, o carácter sentencioso da sua escrita parece suavizar-se pela diminuição dos argumentos utilizados, mas reaparece através das características de um discurso formado por frases mais curtas e incisivas. As metáforas e imagens utilizadas também ora estão próximas do mundo da infância e assumem o humor impiedoso das crianças, ora denunciam a crítica mordaz que se esconde por detrás da experiência adulta.
Bibliografia selectiva: A memória de Giz (1983), Lisboa: Contexto; Dentes de Rato (1987), Lisboa: Guimarães; Contos amarantinos (1987), Porto: ASA; Vento, areia e amoras bravas (1990), Lisboa: Guimarães; O soldado romano (2004), Porto: Ambar; O Dourado (2007), Lisboa: Minutos de Leitura.
[Maria Marta Martins]
02/2012