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Biografia

Biografia
                  

José Jorge Letria  
[Cascais, 1951]  

José Jorge Letria

«O mar tem um peso fortíssimo na minha vida, no meu imaginário, na minha memória.»

José Jorge Letria, o mais premiado escritor português da actualidade, nasceu em Cascais, a 8 de Junho de 1951.

Como escritor distingue-se na poesia, no conto, no teatro e, sobretudo, na literatura para a infância e juventude. É também conhecido como cantautor de intervenção na década de 70, jornalista e político dedicado à cultura, professor e dirigente associativo.

Das quase duas centenas de títulos que publicou, em cerca de 50 editoras diferentes, mais de metade são de literatura infanto-juvenil, através da qual assume uma vocação quase enciclopédica, pela variedade de temáticas abarcadas: estão lá os alertas ecológicos, a cidadania, o terrorismo, o código da estrada e até os Beatles, a par de títulos que divulgam nomes consagrados da Literatura Portuguesa (Cesário, Camões, Nemésio, etc.) e momentos importantes na História de Portugal. Noutros livros, contos clássicos são recontados e personagens fabulosas assumem, frequentemente, personalidades mais próximas da realidade actual dos leitores.

O essencial da sua obra poética encontra-se condensado nos dois volumes da antologia O fantasma da obra, publicados em 1994 e 2003. Segundo o autor, a sua poesia «é muito marcada pelo amor e pela tentação da felicidade que integra o amor. Uma espécie de sede de absoluto que o amor representa enquanto horizonte.» Óscar Lopes, na História da Literatura Portuguesa, caracteriza o poeta como «extraordinariamente fluente» e a poesia uma «lírica de ténues e desencantadas referências ou memórias, num ritmo e numa figuração rigorosos». Para Júlio Conrado, autor de uma biografia de Letria, «o livro que explica os outros livros», o mais autobi(bli)ográfico, é Senhor Pessoa, chegámos a Cascais (1997).

O autor tem poemas traduzidos em espanhol, francês, italiano, checo, russo, búlgaro e alemão, e colaboração dispersa por publicações como Colóquio Letras, Espacio/Espaço Escrito (Espanha), Boca Bilingue (Espanha), Lusorama (Alemanha), Vértice, Silex, Limiar, Hífen e Nova Renascença, entre outras. No teatro, tem mais de dezena e meia de peças para adultos e crianças representadas por grupos profissionais e amadores.

José Jorge Letria cursou Direito, História e História da Arte na Universidade de Lisboa, e é pós-graduado em Jornalismo Internacional (UAL). Jornalista desde 1970, começou por colaborar nos suplementos «Juvenil» e «A Mosca» do Diário de Lisboa. Seguidamente, foi redactor e editor de jornais como República, Diário de Notícias, O Diário (que ajudou a fundar) e Jornal de Letras, onde esteve como editor chefe durante cerca de cinco anos. Foi ainda chefe de redacção do semanário Musicalíssimo e correspondente do diário de Barcelona Tele-Express (1974/75) e da revista Delibros do Ministério da Cultura de Espanha. Foi professor de jornalismo no ensino secundário (1982-85), experiência da qual resultou a publicação de três livros didácticos sobre o tema. É autor de inúmeros guiões para televisão e programas de rádio.

Desde finais dos anos sessenta que se destacou como compositor e intérprete de canções que proclamavam os valores da liberdade e da democracia. Revelado no programa «Zip-Zip» da RTP, integrou, com José Afonso, Manuel Freire, Adriano Correia de Oliveira e Francisco Fanhais, entre outros, o movimento da canção da resistência, tendo realizado centenas de espectáculos em colectividades de cultura e recreio, cine-clubes, cooperativas e associações de estudantes. Todos os discos que gravou antes do 25 de Abril foram proíbidos pela censura. É autor de dois livros sobre a canção política em Portugal. Gravou, entre 1968 e 1981, cerca de uma dezena de LP's, tendo sido também autor de música para peças de teatro e filmes. Deixou de cantar em 1981.

José Jorge Letria, pela sua proximidade a elementos da redacção do República, como Álvaro Guerra, foi um dos poucos civis que se encontravam ao corrente do levantamento militar de 25 de Abril de 1974, tendo colaborado com os militares na Direcção da Emissora Nacional desde 27 de Abril desse ano e até meados de l975. Sobre a sua experiência na madrugada do 25 de Abril publicou, em l999, o livro Uma noite fez-se Abril.

Iniciou o seu percurso político como membro do PCP, desde 1972, tendo-se desvinculado do partido, por motivos ideológicos, em 1991. Aderiu ao PS em 1995, no quadro da adesão dos ex-comunistas reunidos na Plataforma de Esquerda. Entre 1994 e 2001 foi vereador da Cultura da Câmara Municipal de Cascais, onde se destacou a coordenar ou criar projectos como os Cursos Internacionais, cinco prémios literários ou a revista Boca do Inferno. Após o termo do segundo mandato como vereador, foi dado o seu nome a uma Escola Primária em Cascais. Como dirigente associativo foi membro da direcção do Sindicato dos Músicos e da Associação Portuguesa de Escritores. É presidente da Direcção e do Conselho de Administração da Sociedade Portuguesa de Autores, presidente do Comité Europeu da CISAC (Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores), membro da Direcção do Grupo Europeu de Sociedades de Autores, com sede em Bruxelas, e membro do Comité Executivo do Writers and Directors Worlwide.

Em 1992, foi agraciado com a medalha da International des Arts et des Lettres, de Paris, juntamente com os escritores Natália Correia e David Mourão-Ferreira, e, em 1997, foi condecorado pelo Presidente da República com a Ordem da Liberdade. Em Novembro de 2009 recebeu o Prémio Manuel de Arriaga, instituído pela Sociedade Protectora dos Animais para distinguir personalidades individuais ou colectivas que se destaquem anualmente pelo seu contributo para a defesa e divulgação dos direitos dos animais. Em 2013 foram assinalados na Universidade de Coimbra os seus 40 anos de actividade literária com um colóquio e com a publicação da antologia Poesia Escolhida, editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra.



Centro de Documentação de Autores Portugueses
04/2005