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sexta-feira, 19-04-2024
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Biografia

Biografia
                  

Florbela Espanca  
[Vila Viçosa, 1894 - Matosinhos, 1930]  

Florbela Espanca
Florbela Espanca, baptizada com o nome Flor Bela Lobo, cedo começa a assinar Florbela d'Alma, a que acrescentou o nome de seu pai, com quem sempre viveu, embora fosse fruto de uma relação extramatrimonial de João Maria Espanca com Antónia da Conceição Lobo, relação da qual nasceria também Apeles Espanca, irmão querido de Florbela. Declarada filha de pai incógnito no registo de baptismo, Florbela foi criada pela madrinha, Mariana Espanca, mulher de seu pai, e a sua infância parece ter sido feliz, como a própria autora declarava: «Nasci num berço de rendas rodeada de afectos, cresci despreocupada e feliz, rindo de tudo (...)» embora tivesse consciência de que «Aos oito anos já fazia versos, já tinha insónias e já as coisas da vida me davam vontade de chorar.»

Os seus primeiro poemas conhecidos datam de 1903, três quadras, «A Vida e a Morte», e um soneto, «A bondade, o som de Deus...» cuja forma e tema revelam uma precocidade a que não seriam alheios os primeiros sinais da doença que viria a atormentá-la toda a vida. Já em 1907 queixa-se ao pai de fadiga e de dores de cabeça; nesse mesmo ano começa a escrever em prosa o conto «Mamã!», chamamento, talvez, dessa mãe que mal conheceu e que morreu aos 29 anos «duma doença que ninguém entendeu».

Ainda em 1907 a família Espanca muda-se de Vila Viçosa, onde Florbela frequentara o ensino primário e secundário, para Évora, para que a menina possa frequentar o Liceu. Tendo ficado reprovada nos exames do 7º. ano, Florbela casa no dia do seu décimo nono aniversário com Alberto Moutinho, seu colega de escola e de liceu. Dessa época conhece-se o caderno Trocando Olhares, que hoje faz parte do espólio da poeta depositado na Biblioteca Nacional de Lisboa. Trocando Olhares contém três contos e 144 poemas, registados sem qualquer ordem cronológica, incluindo aqueles que deveriam figurar em três livros que a autora desejou compilar mas que não foram editados segundo o primeiro projecto – O livro d'ele, Minha Terra e O meu Amor.

Desejando publicar as suas composições, Florbela contacta a revista Modas e Bordados, suplemento do jornal O Século. Em 1916 alguns poemas seus surgem efectivamente naquela publicação, mas com alterações de conteúdo por parte de terceiros, com o intuito de neles introduzirem «melhoramentos». Entretanto, Florbela alimenta novo projecto para um livro, Alma de Portugal, que constaria de duas partes: «Na Paz» e «Na Guerra», livro de que viria a desistir. Por esse tempo surgem poemas seus no jornal Notícias de Évora. Em época de grande produção poética, a autora selecciona poemas de Trocando Olhares e envia a compilação, intitulada Primeiros Passos, a Raúl Proença, não hesita em corrigir-lhe a poesia ao mesmo tempo que lhe reconhece talento, o que anima a continuar a escrever.

Em 1917 Florbela termina o liceu e passa a frequentar a Faculdade de Direito de Lisboa, embora se tenha sempre referido à vontade de se formar em Letras. Depois de um aborto expontâneo, ela, que sempre manifestara grande desejo de ser mãe, vai recuperar para Olhão, onde o marido lecciona. Florbela regressa a Lisboa e à faculdade, mas o marido fica no Algarve e a separação dos dois torna-se definitiva. Entretanto, a autora continua a corresponder-se com Raul Proença, que em 1919 compila e edita o Livro de Mágoas, introduzindo variantes aos sonetos manuscritos de Florbela. No ano seguinte conhece António Guimarães, alferes da G.N.R com quem vai viver; divorciada de Alberto Moutinho, casa com Guimarães em 1921 e vai viver para o Porto. Naquela cidade consulta o tenente-médico Mário Lage que também presta serviço na G.N.R.

Em 1922 António Guimarães pede transferência para Lisboa e vai servir para o Ministério da Guerra, onde é chefe de gabinete do Ministro do Exército. Por esse tempo Florbela tem pronto para publicação um livro intitulado Claustro das Quimeras, a que tem de alterar o título e a ordem dos poemas por entretanto ter saído a público um livro de nome idêntico, da autoria de Alfredo Pimenta. Assim, em Janeiro de 1923, é editado o Livro de Soror Saudade. «Soror Saudade» fora a designação que o colega de faculdade Américo Durão tinha dado a Florbela, num soneto publicado n' O Século dois anos antes, nome com o qual a autora passa a identificar-se. Novo aborto expontâneo debilita a saúde de Florbela, que vai tratar-se para Guimarães. Ali reencontra Mário Lage e vai viver para sua casa. O casamento com António Guimarães já há muito se encontrava em grave crise, havendo acusações de maus tratos de parte a parte, e o divórcio consuma-se em 1925, tendo Florbela casado com Mário Lage pouco tempo depois: este terceiro casamento foi o primeiro matrimónio religioso da autora.

O jornal D. Nuno, de Vila Viçosa, inicia a publicação de alguns poemas de Florbela; em 1927 a autora começa a traduzir romances franceses. O seu irmão Apeles, piloto aviador, morre num acidente de aviação no Tejo, nunca tendo sido encontrado o corpo. Florbela sofre com a morte do irmão, que muito a perturbou, agravando-se a depressão que há muito a atormentava. Põe de lado a poesia e escreve contos que serão publicados postumamente nos volumes Dominó Preto e As Máscaras do Destino, este último dedicado «A meu Irmão, ao meu querido Morto». Não consegue, no entanto, encontrar editor para publicar os seus últimos livros, que só virão a público por mão de Guido Battelli, professor da Universidade de Coimbra, depois da morte de Florbela, em 8 de Dezembro de 1930, por suícidio com barbitúricos no dia do seu trigésimo sexto aniversário.

O convívio com Battelli iniciou-se no último ano da vida da autora, ano de que se conhece um diário (Diário do Último Ano), quando Florbela retoma a poesia e a revista Portugal Feminino publica alguns dos seus sonetos e contos. Por mão de Guido Battelli, o livro Charneca em Flor, cujas provas Florbela ainda revira, é publicado no início de Janeiro de 1931. No mesmo ano surgem novas edições do Livro de Mágoas e do Livro de Soror Saudade, o póstumo Juvenilia e Cartas de Florbela Espanca a Dona Júlia Alves e a Guido Batelli, uma segunda edição de Charneca em Flor, com vinte e oito sonetos inéditos (Reliquiae) e os contos de As máscaras do destino. Todos os seus livros de poesia serão reeditados num só volume, Sonetos Completos em 1934, com prefácio de José Régio.

Florbela nunca se integrou em nenhum grupo literário, nem nunca foi solicitada a colaborar em qualquer periódico relevante; e em 1916 integra-se no apoio da nossa poesia neo-romântica à beligerância de Portugal com os poemas de mais um malogrado livro: Alma de Portugal.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
08/2004