Resumo
Faleceu a 31 de dezembro, em Lisboa, a autora que fez da escrita uma questão de vida ou de morte.
Texto
Adília Lopes, um dos nomes mais singulares da poesia portuguesa contemporânea, morreu no último dia de 2024, em Lisboa. Com 63 anos, Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira – o nome por detrás do pseudónimo – deixa uma obra vasta e profundamente marcada pela fusão entre humor, dor e um olhar poético sobre o quotidiano.
“Eu levo a minha poesia muito a sério. Para mim é uma questão de vida ou de morte”, afirmou Adília, que transformou temas domésticos e femininos em versos de candura e crueza, abordando também sem pudor a sua experiência com a psicose esquizoafetiva. Com o primeiro livro publicado em 1985, a autora conquistou leitores e críticos pela originalidade do seu estilo, entre o naïf e o erudito, carregado de referências literárias e culturais.
Tradutora, cronista e “freira poetisa barroca”, como gostava de se descrever, Adília Lopes deixa uma obra que transcende a literatura, tendo inspirado figuras como Paula Rego, que ilustrou a coletânea Obra (2000). A sua poesia permanecerá como um testemunho intemporal de quem soube tornar o banal em extraordinário e o íntimo em universal.