Dandy saturniano, entre a boémia e a pobreza, entre o prestígio panfletário e o abandono visionário, Gomes Leal (Lisboa,
1848-1921) publicou irregularmente a mais extraordinária e desconcertante obra poética do seu tempo. Personificando a figura romântica do predestinado para os rasgos de génio e para os transes da desgraça, Gomes Leal revelou logo na primeira e insuperada colectânea — Claridades do Sul (1875) — as potencialidades ímpares e nunca perfeitamente actualizadas. Aí cruzava todas as tendências do século XIX; e por vezes antecipava aspectos do Modernismo e da imaginação surrealista.