Maria de Lourdes Belchior
[Lisboa, 1923 - Lisboa, 1998]
Ensaísta, professora catedrática, investigadora, poeta. De formação católica, licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa em 1946, com a dissertação Da Poesia de Frei Agostinho da Cruz: Tentativa de Análise Estilística, e logo se tornou assistente dessa Faculdade, vindo a fixar-se em Paris em 1950, onde foi leitora de Português no Instituto Católico (1951-52). Regressada a Lisboa, prestou provas de doutoramento em 1953 com a tese Frei António das Chagas: Um Homem e Um Estilo do Século XVII (1953). Passando a professora extraordinária em 1959, publicou nesse ano um longo ensaio intitulado Itinerário Poético de Rodrigues Lobo e veio a desempenhar entre 1963 e 1966 o cargo de conselheira cultural da Embaixada Portuguesa no Brasil. Em 1969 foi nomeada professora catedrática da Universidade do Porto, sendo transferida no ano seguinte para a de Lisboa, onde regeu cursos de literatura portuguesa e espanhola, orientando teses e diversos trabalhos.
Foi vice-presidente (1970-71) e presidente (1972-74) do Instituto de Alta Cultura e, a seguir ao 25 de Abril, secretária de Estado da Cultura nos três primeiros governos provisórios. Nos anos oitenta leccionou na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara. Dirigiu também (entre 1989 e meados da década seguinte) o Centro Cultural da Fundação Gulbenkian em Paris.
Primeiramente influenciada pela Estilística como método fundamental de abordagem do texto literário, a sua obra ensaística recolheu as lições de Leo Spitzer e sobretudo de Dámaso Alonso, investigando de forma original e profunda os mais diversificados aspectos das literaturas peninsulares dos séculos XVI e XVII, com especial relevo para nomes como os de Frei Agostinho da Cruz, Francisco Rodrigues Lobo e Frei António das Chagas, não esquecendo outros assuntos relacionados com os cancioneiros barrocos, a literatura espiritual, a oratória sacra, etc. Numa fase posterior, interessou-se igualmente pela poesia portuguesa contemporânea (cf., p. ex., Poesia Neo-Realista, 1962) e pela problemática mais geral da cultura portuguesa (Portugal ou o Labirinto da Saudade, 1979; Sobre o Carácter Nacional ou Para Uma Explicação de Portugal, 1982). Sabendo manifestar uma atitude lucidamente crítica face às correntes estruturalistas dominantes nos anos 60 e 70 (cf. sobretudo Os Homens e os Livros - II: Séculos XIX e XX, 1980), também quanto a essa independência de espírito o seu magistério se tem mantido actual.
Finalmente, revelar-se-ia em 1985 no campo da poesia com Gramática do Mundo, um livro inegavelmente meritório, no qual vêm à tona alguns dos temas da sua reflexão (p. ex. o apelo místico ou a saudade), olhados à luz de uma fé religiosa que nunca a abandonou.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998
