Onésimo Teotónio Almeida
[Pico da Pedra, S. Miguel, Açores, 1946]
Professor universitário e escritor da diáspora portuguesa nas Américas, começou os seus estudos no seminário de Angra e, depois, na Universidade Católica de Lisboa. Em 1972, emigrou para os Estados Unidos da América, concluindo quatro anos depois a licenciatura na prestigiada Universidade de Brown (Providence, Rhode Island). A experiência de integração no universo cultural norte-americano fez despontar o interesse pela problemática das ideologias, do qual resultou uma tese de doutoramento em filosofia: The Concept of Ideology: A Critical Analysis (1980). Desde 1975 a leccionar na Universidade de Brown, onde dirige o Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros, tem procurado aprofundar questões como a aculturação e o relativismo cultural, a ética e a epistemologia, numa palavra, as mundividências, matéria central da cadeira interdisciplinar que começou a reger logo após a conclusão do doutoramento: «A Formação das Mundividências». Empenhado na divulgação da cultura e língua portuguesas no mundo de língua inglesa, criou a primeira cadeira sobre literatura açoriana na Brown; é responsável, desde 1979, por um programa cultural no Portuguese Channel da Whaling City Cable-TV de New Bedford; fundou e é co-director da revista Gávea-Brown; fundou e dirige uma editora com o mesmo nome, que se destina à publicação, em inglês, de estudos de cultura portuguesa e traduções de literatura portuguesa, de onde se destaca a obra de José Rodrigues Miguéis: em 1985, organizou o volume José Rodrigues Miguéis: Lisbon in Manhattan publicado nessa editora.
Colaborador assíduo de diversos jornais e revistas, com mais de uma centena de artigos publicados, destacam-se: Revista de Comunicação e Linguagens (onde publicou um resumo alargado da tese de doutoramento), Cultura: História e Filosofia, Revista da Faculdade de Letras, Colóquio/Letras, Nova Renascença, Vértice, Revista de Cultura Açoriana, Arquipélago, Atlântida, Revista Brasileira de Filosofia, Hispania, Ideologies & Literature, Europe, The Modern Language Journal, Luso-Brazilian Review, The Journal of Ethnic Studies, Jornal de Letras, Artes & Ideias, Diário de Notícias, Correio dos Açores. Desde 1997, é colaborador regular da revista Ler, onde assina as «dia-crónicas», relatos de uma vivência atribulada no outro lado do Atlântico. Na imprensa luso-americana, é colaborador regular do Portuguese Times (New Bedford), do Portuguese Tribune (Califórnia) e do Portuguese Sun (Canadá).
Foi ainda nos anos sessenta que publicou a primeira obra, um livro de poemas intitulado O Centenário (1963). Em 1969, publicou a primeira peça de teatro, Esperança - 21. Nos últimos anos, a sua escrita tem-se repartido entre o ensaísmo e a ficção, com a crónica a servir de ponto de confluência desses dois géneros. Nos ensaios académicos, tem percorrido três áreas principais: História Cultural Portuguesa (em particular o debate em torno da ideia de decadência da Península Ibérica), Cultura e Literatura Açorianas e, por fim, Axiologia. Defendendo que a grande questão da cultura portuguesa dos últimos duzentos anos é a da decadência, ou seja, a percepção e consciencialização do atraso relativamente às culturas do centro e norte da Europa, tem revisitado essa problemática – que designa por «da identidade nacional» – em cadeiras e seminários. O tema daria ainda origem ao livro Mensagem: Uma Tentativa de Reinterpretação. A peça em três actos intitulada No Seio Desse Amargo Mar centra-se precisamente nessa temática, apresentando como personagens principais Antero de Quental, Teófilo Braga, Roberto de Mesquita, Armando Côrtes-Rodrigues e Vitorino Nemésio, actores que ao conversarem num palco se ocupam das grandes questões do Portugal de hoje. Sempre atento ao pensar e ao ser açoriano, organizou em 1983 o volume The Sea Within: A Selection of Azorean Poetry. No mesmo ano, escreveu A Questão da Literatura Açoriana. Sensível também às formas de aculturação, aos choques culturais e ao problema da osmose linguística, retratou as desilusões do sonho americano em Da Vida Quotidiana na L(USA)lândia e (Sapa)teia Americana.
Com colaboração assídua em livros colectivos publicados em Portugal, Estados Unidos, Brasil, França e Inglaterra, destacam-se: «Portugal and the concern with national identity», em Ann L. MacKenzie (org.), Portugal: Its Culture, Influence and Civilization (1994); «On the contemporary Portuguese essay», em Helena Kaufman e Anna Klobucka (orgs.), After the Revolution: Two Decades of Portuguese Literature (1996); «Jacinto do Prado Coelho e a sua serena concepção de crítica literária», em Ana Hatherly e Silvina Rodrigues Lopes (orgs.), O Sentido e os Sentidos. Homenageando Jacinto do Prado Coelho (1997); «O humor (ou a ausência de) no Camilo polémico» em Isabel Pires de Lima (org.), O Sentido Que a Vida Faz. Estudos para Óscar Lopes (1997). Com participação em diversos dicionários e enciclopédias, referimos, pela sua importância, as entradas sobre Vergílio Ferreira e Eduardo Lourenço na The Encyclopedia of the Essay dirigida por Tracy Chevalier.
Estando representado em várias colectâneas, antologias e livros escolares com alguns dos seus textos literários, é vice-presidente do Rhode Island Committee for the Humanities, membro do Conselho Executivo do Watson Institute for International Studies, da Universidade de Brown. Membro da American Philosophical Association e da Society for the Study of Humor, a sua escrita revela ainda um forte pendor humorístico, para o autor uma forma de penetrar mais profundamente num real complexo e em constante mutação. O humor é, sem dúvida, uma das personagens principais da sua criação, das crónicas ao teatro, servindo aqui de exemplo a introdução a Está a Brincar, Senhor Feynman de Richard P. Feynman. É neste substrato humorístico que se revela em pleno a sua atenção ao pormenor sociológico, de que é exemplo o livro de crónicas Que Nome É Esse, ó Nézimo? e outros advérbios de dúvida, publicado em 1994.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
09/2005