Resumo
No centenário do seu nascimento, celebramos o legado do poeta que reinventou a literatura portuguesa com liberdade e irreverência.
Texto
Hoje, 19 de dezembro, celebramos o centenário de Alexandre O’Neill, um dos nomes maiores da poesia portuguesa do século XX.
Figura singular do movimento surrealista português, que ajudou a fundar em 1947, Alexandre Manuel Vahia de Castro O’Neill de Bulhões trouxe para a poesia uma frescura irónica, reflexiva e profundamente marcada pela economia da palavra. Foi com o poema gráfico A Ampola Milagrosa que se estreou em 1948, mas foi em coletâneas como Tempo de Fantasmas (1951) e nas obras que se seguiram que consolidou a sua posição enquanto voz de vanguarda na literatura portuguesa.
O'Neill foi mestre na arte do desassossego, utilizando o humor, a ironia e o desencanto como ferramentas para desconstruir as convenções literárias e sociais do seu tempo. Com as mesmas mãos que criavam poemas, forjou slogans publicitários que perduram na memória coletiva, como símbolos da sua mestria na comunicação escrita.
Embora antiliterário por natureza, Alexandre O’Neill nunca deixou de dialogar com a tradição, piscando o olho a Cesário Verde ou reinterpretando formas literárias de um passado que sabia renovar. Poeta "do País Relativo", como ele próprio chamava a Portugal, mostrou-nos como a liberdade da palavra pode ser o caminho para a liberdade do homem.
Cem anos depois do seu nascimento, a poesia de O’Neill permanece uma leitura obrigatória, uma desconstrução inventiva e desafiante que nos obriga a pensar, a rir e a refletir sobre o nosso destino coletivo.
Fotografia: Biblioteca Nacional de Portugal.