Não Percas a Rosa. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975)
Não Percas a Rosa. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975)
1ªed.
Lisboa: Publicações Dom Quixote - Grupo LeYa, 1978
Não Percas a Rosa. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975)
2ªed.
Lisboa: Editorial Notícias, 2003
Sinopses
Da contracapa da 1.ª edição:
"Escrito sob a forma de diário, o presente livro historia-nos cronológica, mas apaixonadamente os acontecimentos que vão da explosão, seguida do consequente incêndio que se verificou em Portugal no dia 25 de Abril de 1974, até ao rescaldo da sua extinção situado em 20 de Dezembro de 1975, passando pelos dois rebentamentos, que mais avivaram as chamas, do 28 de Setembro e do 11 de Março, e culminando no combate decisivo ao fogo de 25 de Novembro de 1975.
Esses pouco mais de ano e meio de revolução portuguesa, dos seus solavancos, indecisões, procuras, mistificações e confusões, foram tão intensamente vividos pelos Portugueses de qualquer quadrante ideológico que ainda hoje parecerá mentira a muitos tudo se ter passado num tão curto espaço temporal.
Obra de uma das raras vozes lúcidas e independentes, no seu sentir como na sua participação activa, que se fizeram ouvir num período tão perturbado da vida portuguesa, ela será, sem dúvida, indispensável no futuro para a interpretação histórica do que foi e está sendo ainda a «Revolução dos Cravos»."
Das notas à 2.ª edição, por Maria Fernanda de Abreu:
Existe um planeta onde os seres têm dois buracos. A um chamam eles superior. Ao outro, inferior. Aqui está o absurdo dos habitantes deste planeta, já que pelo primeiro ingerem cadáveres de animais, legumes e frutos cujos resíduos, triturados por um aparelho que tem o nome de digestivo, expelem pelo último. Isto é: consideram superior a fenda que replectam de porcaria e inferior o orifício que dessa lama os alivia. Mas são assim. Trocam tudo.
Eis as palavras com que Natália Correia, num dia de Fevereiro de 1975, abriu o Diário e algo mais, que começara na madrugada de 25 de Abril de 1974 e viria a encerrar a 20 de Dezembro de 1975.
Passado o entusiasmo da primeira hora, a perplexidade perante o rumo da "evolução" e a vontade compulsiva de actuar levam-na, agora, a clamar e a esforçar-se por mostrar a perversão dos caminhos: trocam tudo.
Sábia utilizadora dos processos surrealistas, ao serviço de uma pedagogia hermenêutica e argumentativa; barroca no protagonismo da linguagem e romântica na mundividência e nos anseios, conjugam-se neste seu livro a experiência e o talento polifacéticos de poetisa, narradora e dramaturga, já longamente provados.
Voltando à prática do diário, que antes usara em Descobri que Era Europeia, este é algo mais, muito mais: discurso lírico - a Mãe, a Ilha, o Amor; ensaio de politologia; crónica de actualidade; sátira, caricatura magistral, retrato bufonesco da vida política e dos seus protagonistas.
Saído em 1978, nas Publicações D. Quixote, com ele dizia Natália Correia querer mostrar o ponto de chegada a que a tinham conduzido o repensar das ilusões desmoronadas onde declina o astro agónico da decadência euro-ocidental. O grito que, à sua maneira, já Camões, Almada e Pessoa, por ela invocados, tinham posto em livro é agora, sob o signo esotérico do último, e na voz de Natália, Portugal, Portugal, não percas a rosa, com que termina o diário (...).
Uns partilharão a sua vertente satírico-burlesca, outros entendê-lo-ão pela via esotérica, de ressonâncias místicas - duas vertentes, só aparentemente opostas, que sustentam o fazer poético e o comportamento cívico-político da escritora, aqui articulados como em nenhuma outra obra sua, ao serviço de uma análise empenhada e comprometida, da "revolução dos cravos".