Gémeos
Gémeos
1ªed.
Lisboa: Publicações Dom Quixote - Grupo LeYa, 2004
Gémeos
2ªed.
Lisboa: Publicações Dom Quixote - Grupo LeYa, 2004
Sinopses
Excerto de um texto de Carlos Reis no Jornal de Letras, Artes e Ideias de 22 de Dezembro de 2004:
«Em Gémeos, retoma Mário Cláudio alguns dos motivos que directa e regularmente têm atravessado a sua ficção. A criação artística, a vida e o destino do artista (ou do escritor), os conflitos que protagoniza, a relação com os outros e com a posteridade que em vida se vai antecipando, tudo se insinua na história relatada em Gémeos, a partir e em função de uma personalidade com a estatura de Francisco Goya.
O pintor que aqui aparece é já o velho temeroso da morte, na antecâmara de horrores emanados da sua imaginação sombria e projectados na serie negra de 14 quadros que foi espalhando directamente sobre o gesso das paredes da sua Quinta del Sordo, antes de morrer, em 1828. Refúgio de velhice e de serôdia vida amorosa, a quinta é, então, o espaço de incubação de obsessões, de fantasmas e de negros horrores que atormentavam o pintor, na sequência da grave enfermidade que deu lugar ao extraordinário auto-retrato em que Goya aparece a ser amparado pelo seu amigo Arrieta: esse mesmo que é mencionado no final do romance, num passo admirável pela capacidade de evoação quase visual da cena: "E pintei-o enfim, amparando-me num quase abraço, quando me acamava ainda, e arrepanhava eu o lençol no convulso gesto dos agonizantes, e me chegava ele amorosamente o copo do soluto, e hesito entre a vontade que me assistia, se a de beber o remédio que me ganharia a cura, se a de permancer sob a protecção de quem me interpelava" (pág. 124).»