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Thursday, 21-11-2024
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Voice from a stone

Voice from a stone
VOICE FROM A STONE

I don’t adore the past
I’m not three times a master
I made no pact with the underworld
that’s not why I’m here
sure I saw Osiris but at the time he was called Luiz
sure I was with Isis but I told her my name was João
no word is ever complete
not even in German which has such big ones
and so I’ll never succeed in telling you what I know
unless by an arrow from the wind’s blue and black bow

I won’t say as someone else did that I know I know nothing
I know that I’ve always known a few things
and that this counts for something
and that I hurl whirlwinds and see the rainbow
believing it to be the supreme agent
of the world’s heart
vessel of freedom purged of menstruation
living rose before our eyes
The future city where “poetry will no longer give rhythm
to action since it will march ahead of it”
is still far far away
Will there be an end to the preachers of death?
An end to the reapers of love?
An end to the torture of eyes?
Then pass me that jackknife
because there’s a lot we need to start pruning
pass it don’t look at me as if I were a wizard
entrusted with the miracle of truth
“the swinging of an ax and the goal of not being sacrificed won’t build anything under the sun”
nothing is written after all

© Translation: 2005, Richard Zenith


VOZ NUMA PEDRA

Não adoro o passado
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíris porém chamava-se ele nessa altura Luiz
decerto fui com Ísis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco e flecha negro e azul do vento

Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muito bem que soube sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco íris
acreditando ser ele o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do mênstruo
rosa viva diante dos nossos olhos
Ainda longe longe a cidade futura
onde “a poesia não mais ritmará a acção
porque caminhará adiante dela”
Os pregadores de morte vão acabar?
Os segadores do amor vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar
passa não me olhes como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
“a machadada e o propósito de não sacrificar-se não constituirão ao sol coisa nenhuma”
nada está escrito afinal

© 1957, Mário Cesariny
From: Pena Capital
Publisher: Assírio & Alvim, Lisbon, 2004
ISBN: 972-37-0512-5