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Sunday, 24-11-2024
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To a dead rat found in a park

To a dead rat found in a park
To a dead rat found in a park

Here this creature ended its vast career
as a dark and living rat beneath the starry expanse
its diminutive size only humiliates
those who want everything to be enormous
and who can only think in human or arboreal terms
for surely this rat used as well as it knew how (or didn’t know)
the miracle of its tiny feet – so close to its snout! –
which were after all just right, serving perfectly
for clawing, scurrying, securing food or beating a retreat, when necessary

So is everything as it should be, O “God of small cemeteries”?
But who knows who can know when a mistake has been made
in hell’s central offices? Who can be sure
that this creation so disdained by the world
but with a world inside it
wasn’t initially conceived to be a prince or judge of nations?
The worries it aroused in housewives and physicians!
Who are we to play at good and evil when they’re beyond us?
Some lad understood the uniqueness of its life
and ran over it with the wheel by which, eye to eye,
the vicitim and the executioner love each other

It had no friends? It deceived its parents?

It ran all about, a tiny body that had fun
and now just lies there, gooshy, smelly.

What sort of conclusion does this poem,
without exaggeration, merit?
Romantic? Classical? Regionalist?

What end belongs to a brave and humble body
killed at the height of its lyrical powers?

© Translation: 2005, Richard Zenith


A um rato morto encontrado num parque

Este findou aqui sua vasta carreira
de rato vivo e escuro ante as constelações
a sua pequena medida não humilha
senão aqueles que tudo querem imenso
e só sabem pensar em termos de homem ou árvore
pois decerto este rato destinou como soube (e até como não soube)
o milagre das patas – tão junto ao focinho! –
que afinal estavam justas, servindo muito bem
para agatanhar, fugir, segurar o alimento, voltar atrás de repente, quando necessário

Está pois tudo certo, ó “Deus dos cemitérios pequenos”?
Mas quem sabe quem sabe quando há engano
nos escritórios do inferno? Quem poderá dizer
que não era para príncipe ou julgador de povos
o ímpeto primeiro desta criação
irrisória para o mundo – com mundo nela?
Tantas preocupações às donas de casa – e aos médicos – ele dava!
Como brincar ao bem e ao mal se estes nos faltam?
Algum rapazola entendeu sua esta vida tão ímpar
e passou nela a roda com que se amam
olhos nos olhos – vítima e carrasco

Não tinha amigos? Enganava os pais?

Ia por ali fora, minúsculo corpo divertido
e agora parado, aquoso, cheira mal.

Sem abuso
que final há-de dar-se a este poema?
Romântico? Clássico? Regionalista?

Como acabar com um corpo corajoso humílimo
morto em pleno exercício da sua lira?

© 1957, Mário Cesariny
From: Pena Capital
Publisher: Assírio & Alvim, Lisbon, 2004
ISBN: 972-37-0512-5