INHABITED BODYBody on a horizon of water, body open to the slow intoxication of fingers, body defended by the splendour of apples, surrendered hill by hill, body lovingly made moist by the tongue’s pliant sun.
Body with the taste of cropped grass in a secret garden, body where I am at home, body where I lie down to suck up silence, to hear the murmur of blades of grain, to breathe the deep dark sweetness of the bramble bush.
Body of a thousand mouths, all tawny with joy, all ready to sip, ready to bite till a scream bursts from the bowels and mounts to the towers and pleads for a dagger. Body for surrendering to tears. Body ripe for death.
Body for imbibing to the end – my ocean, brief and white, my secret vessel, my propitious wind, my errant, unknown, endless navigation.
© Translation: 1985, Alexis Levitin From: Inhabited Heart Publisher: Perivale Press, Los Angeles, 1985, 0-912288-24-8
| CORPO HABITADO
Corpo num horizonte de água, corpo aberto à lenta embriaguez dos dedos, corpo defendido pelo fulgor das maçãs, rendido de colina em colina, corpo amorosamente humedecido pelo sol dócil da língua.
Corpo com gosto a erva rasa de secreto jardim, corpo onde entro em casa, corpo onde me deito para sugar o silêncio, ouvir o rumo das espigas, respirar a doçura escuríssima das silvas.
Corpo de mil bocas, e todas fulvas de alegria, todas para sorver, todas para morder até que um grito irrompa das entranhas, e suba às torres, e suplique um punhal. Corpo para entregar às lágrimas. Corpo para morrer.
Corpo para beber até ao fim – meu oceano breve e branco, minha secreta embarcação meu vento favorável, minha vária, sempre incerta navegação.
© 1971, Eugénio de Andrade From: Obscuro Domínio Publisher: Limiar, Oporto, 1971
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