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Thursday, 21-11-2024
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The keeper of sheep II

The keeper of sheep II
THE KEEPER OF SHEEP II

My gaze is clear like a sunflower.
It is my custom to walk the roads
Looking right and left
And sometimes looking behind me,
And what I see at each moment
Is what I never saw before,
And I’m very good at noticing things.
I’m capable of feeling the same wonder
A newborn child would feel
If he noticed that he’d really and truly been born.
I feel at each moment that I’ve just been born
Into a completely new world…

I believe in the world as in a daisy,
Because I see it. But I don’t think about it,
Because to think is to not understand.
The world wasn’t made for us to think about it
(To think is to have eyes that aren’t well)
But to look at it and to be in agreement.

I have no philosophy, I have senses…
If I speak of Nature it’s not because I know what it is
But because I love it, and for that very reason,
Because those who love never know what they love
Or why they love, or what love is.

To love is eternal innocence,
And the only innocence is not to think…

© Translation: 2006, Richard Zenith
From: A Little Larger Than the Entire Universe: Selected Poems
Publisher: Penguin, New York, 2006, 0-14-303955-5

O GUARDADOR DE REBANHOS II

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo comigo
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo…

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender…
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar…

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar…

© 1914, Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
From: Poesia
Publisher: Assírio & Alvim, Lisbon, 2001
ISBN: 972-37-0654-7