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segunda-feira, 20-10-2025
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Biografia

Biografia
                  

Joaquim Paço d'Arcos  
[Lisboa, 1908 - Lisboa, 1979]  

Joaquim Paço d'Arcos
Ficcionista, ensaísta, poeta e dramaturgo, partiu muito cedo para Angola com os pais e, depois, para Macau e Moçambique, onde exerceu funções de secretário e chefe de gabinete de seu pai, o governador entre 1925 e 1927; de 1928 a 1930 viveu no Brasil como comerciante e jornalista. Em 1931 é chefe de repartição da Companhia Nacional de Navegação.

Foi em França, em 1933, que escreveu o seu primeiro romance, Herói Derradeiro, seguindo-se dois anos mais tarde o volume de novelas Amores e Viagens de Pedro Manuel; após uma segunda permanência no Brasil, é nomeado, em 1936, chefe dos Serviços de Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, cargo que conservou durante cerca de 25 anos, tornando-se igualmente, a partir de 1944, director da Trans-Zambezia Railway. Outras funções, sem dúvida importantes, foram as de presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores e membro activo da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses.

As viagens quase permanentes, a que os seus cargos públicos e privados obrigavam, influenciaram a sua vastíssima obra, cujo corpo central é constituído, no entanto, pelos seis volumes que formam a Crónica da Vida Lisboeta, publicados entre 1938 e 1956. Este ciclo de romances acentuadamente visualistas suscitou críticas, no sentido do autor se ver acusado de limitar Lisboa ao sector da alta burguesia financeira e industrial e à aristocracia que dela vive, não se dando a devida atenção ao facto de o retrato feito por Joaquim Paço d'Arcos nem sempre ser favorável às personagens, as quais, por vezes, ficam cruelmente à mercê do julgamento do leitor, com os seus negócios ilícitos e os seus mesquinhos problemas morais.

Quanto à restante produção ficcional, se Herói Verdadeiro tem África como pano de fundo, Amores e Viagens de Pedro Manuel evoca as sua aventuras no Oriente, e Diário de um Emigrante os problemas gravíssimos de um homem que deixa a terra e a família para se tornar num anónimo comerciante de antiguidades no Brasil. Tudo isto lhe é familiar e, aliás, nunca ninguém pretendeu que o estilo de Joaquim Paço d'Arcos fosse rico em imagens e transposições simbólicas ou metafóricas. Por isso, o género que mais se lhe adequa é, afinal, o memorialismo: Memórias da Minha Vida e do Meu Tempo, publicados em três volumes (o último dos quais póstumo, no ano da sua morte), são consideradas pelo próprio autor «pedaços de livros, predominantemente seus, e pedaços de vidas, em grande parte alheias».

Escrito com a sobriedade da idade madura, estes livros de memórias são, como referiu Hernâni Cidade, «transparentes como vidraça sem cor», mas genuínos na sua substância autobiográfica e no seu carácter testemunhal.

Joaquim Paço d'Arcos, talvez pelo facto de ser um escritor muito «datado», obteve diversos prémios literários, o primeiro dos quais coincidiu com a sua nomeação para o cargo de chefe dos Serviços de Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros: foi o Prémio Eça de Queirós, atribuído ao seu romance Diário de um Emigrante pelo Secretariado de Propaganda Nacional; o seu livro de novelas Neve sobre o Mar foi galardoado com o Prémio Fialho de Almeida, e a sua peça de teatro O Ausente obteve o Prémio Gil Vicente; quanto ao Prémio Ricardo Malheiros, atribuído pela Academia das Ciências ao primeiro romance da «Crónica [...]», Ana Paula, o autor recusou-o devido aos termos em que se exprimia o relatório da comissão incumbida de o atribuir e que punha públicas reservas quanto à sua qualidade, designadamente pelo uso frequente de estrangeirismos.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997