Raúl Hestnes Ferreira
[Lisboa, 1931 - Lisboa, 2018]
Arquitecto estabelecido em Lisboa, activo em Portugal desde 1960.
Estudou nas Escolas Superiores de Belas Artes do Porto e de Lisboa, tendo-se paralelamente envolvido no MUD (Movimento de Unidade Democrática) juvenil, o que conduziu à sua prisão pela PIDE-DGS (polícia política). O ambiente concentracionário que se vivia então em Portugal levou-o à Finlândia, onde estudou no Instituto de Tecnologia de Helsínquia, tendo convivido de perto com as obras de Aalto no momento em que o empirismo nórdico acabava de ser descoberto internacionalmente. Parte de seguida para os Estados Unidos, onde estuda na Universidade de Yale (1962) e na Universidade de Pensilvania, onde realiza o Master em Arquitectura (1963). Trabalhou com Arménio Losa e João Andresen quando estudou no Porto (1955-57), com Baeckman em Helsínquia (1958), mas é a colaboração com Louis Kahn em Filadélfia que o marca mais profundamente (1963-1965).
Paralelamente a uma activa e empenhada prática arquitectónica que é secundada por um dedicado magistério, Raul Hestnes tem aplicado as suas preocupações culturais ao desenvolvimento de investigações sobre temas como o primeiro modernismo português, estudando pioneiramente a figura de Cassiano Branco, ou, ainda, abordando os valores regionalistas e modernos presentes na obra de Keil do Amaral: investigou, organizou e produziu os textos da Exposição e Catálogo Cassiano Branco e a Sua Arquitectura.
Em 1991 voltou a reflectir sobre a obra de Cassiano e no ano seguinte colabora na monografia sobre Keil do Amaral, reflectindo sobre o significado da sua obra e o seu contributo maior para a arquitectura portuguesa, matéria que desenvolveria anos mais tarde em «O sonho do arquitecto» por ocasião da exposição monográfica sobre este autor. Ainda neste quadro de aproximação à cultura arquitectónica, organizou e escreveu o primeiro número monográfico de uma revista internacional –L'Architecture d'Aujourd'hui –, dedicado a Portugal (1976) a propósito da revolução de Abril 1974, tendo realizado (com Brigitte David) o texto sobre o SAAL - Serviço de Apoio Ambulatório Local.
Das suas colaborações em revista destacam-se: «Exposição de Arquitectura Finlandesa na SNBA», Arquitectura nº. 66, 1960; «Reflexões sobre a Cidade Americana», Arquitectura nº. 91, 1966.
Assistente da ESBAL (1970-72), professor convidado da Cooperativa Ensino Universitário - Árvore (1986-88), desde 1991 é professor no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. Paralelamente, tem realizado diversas conferências em Portugal, França, Bélgica, Noruega e Itália.
Foi Prémio AICA, Associação Internacional de Críticos de Arte (1982), Prémio dos Cadernos Municipais pela recuperação de uma arcada do séc. XVI em Beja (1982), Prémio Eugénio dos Santos (1993).
A sua obra, planos e projectos, tem igualmente sido publicada em livros e revistas nacionais e internacionais (A&V, Casabella, Building Design, Hus, Arquitectura Portuguesa, Arquitectura e Architetti) e divulgada através de diversas exposições.
Escreveu artigos monográficos sobre os arquitectos Cassiano Branco e Keil do Amaral, respectivamente em Cassiano Branco, Uma Obra para o Futuro (1991) e Keil do Amaral, o Arquitecto e o Humanista (1998).
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999