Urbano Rodrigues
[Serpa, 1888 - Lisboa, 1971]
Urbano Rodrigues nasceu em Serpa, mas passou em Moura, terra da sua família paterna, a infância e parte da adolescência. Tendo seu pai emigrado para África e depois para o Brasil, cedo começou a trabalhar como repórter. Aos 17 anos, idade em que publica a sua primeira peça de teatro, Caminho da Ventura (1905), frequenta o Curso Superior de Letras, onde Teófilo Braga o distingue com a sua amizade. Participa na agitação e propaganda republicana e é eleito, ainda na Constituinte, deputado pelo distrito de Beja.
Como dramaturgo, viu representadas várias das suas obras, que valem, sobretudo Maria da Graça (1910, em colaboração com Vitor Mendes), pela sensibilidade, pela naturalidade do diálogo e pelo pitoresco alentejano, além da intuição que demonstram da carpintaria cénica.
Mas foi especialmente no romance que Urbano Rodrigues obteve os melhores resultados, fazendo a sátira do novo-riquismo burguês em A Duquesa da Baeta (1918). Certa influência de escritores franceses então em voga (Claude Farrère, Pierre Loti, Pierre Louÿs, Paul Morand) e do esteticismo decadentista de Gabrielle D'Annunzio manifestam-se em Coração (novela, 1917), O ídolo de Carne (1929), Cinco Aventuras sem Importância (1934) e Viagem através de Uns Olhos Verdes (1940).
O Alentejo, que surgira já nas páginas da novela «Novo Paraíso», da colectânea Sonho em Pompeia (1943), torna-se o cenário ao mesmo tempo quieto e exaltante de O Castigo de Dom João (1948), que lhe vale o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa.
Preso na Penitenciária durante o sidonismo, foi secretário e chefe do gabinete de Afonso Costa. Mais tarde director de O Mundo, apoiou a campanha do seu amigo Manuel Teixeira-Gomes à Presidência da República, e escreveu a seu respeito um curioso livro de memórias próximo da biografia: A Vida Romanesca de Teixeira-Gomes (1946).
Após o encerramento de O Mundo, em 1926, retirou-se para o Alentejo, onde possuía um «monte» perto de Moura, voltando mais tarde ao jornalismo como redactor principal do Diário de Notícias.
Os seus três filhos (Urbano Tavares Rodrigues, Miguel Urbano Rodrigues e Jorge Tavares Rodrigues ), todos eles homens de letras, passaram pelo jornalismo, sendo os dois primeiros figuras da resistência antifascista e escritores conhecidos.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994