Vasco Graça Moura
[Porto, 1942 - Lisboa, 2014]
Poeta, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, cronista e tradutor.
Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, Vasco Graça Moura é um dos nomes centrais da poesia portuguesa da segunda metade do Século XX. Trata-se de uma evidência pacífica, sobretudo desde a publicação de Instrumentos para a melancolia (1980), momento a partir do qual a sua obra se impôs por um classicismo de contornos eruditos, que não rasura aspectos do quotidiano mais prosaico, mas privilegia sem ambiguidades o diálogo com outras artes, em particular a pintura. Livros como A furiosa paixão pelo tangível (1987) ou Uma carta no inverno (1997), são hoje clássicos da língua.
Óscar Lopes diz quase tudo quando refere a «agilidade com que, por exemplo, tanto retoma a sextina renascentista como, mais recentemente, constrói um rigoroso e virtuoso contraponto poético a partir de um simples tema de lenga-lenga infantil». Eduardo Lourenço prefere sublinhar o triunfo de uma «nova discursividade aleatória» que dialoga com «a História, o mito, a crónica, a poesia dos outros».
Por outro lado, o reiterado exercício da tradução é um prolongamento natural da sua própria escrita, seja com Dante (de quem traduziu, na íntegra, A divina comédia e A vita nuova) e Petrarca, seja com Shakespeare ou Rilke.
Na área do ensaísmo literário, onde a solidez da sua argumentação é de algum modo equiparável à de Jorge de Sena – pelo volume de informação e o recorte idiossincrático das questões –, deve ser dada ênfase aos estudos camonianos, de que Camões e a divina proporção (1985) e Os penhascos e a serpente (1987) são exemplos paradigmáticos.
É no âmbito da ficção que podem suscitar-se algumas reservas, apesar da escarolada maestria de um romance como Naufrágio de Sepúlveda (1988). Neste, como noutros seus romances, o maneirismo formal acentua o enfoque da crítica de costumes. Também na crónica, em regra de índole política e matriz conservadora, se vê alvo de controvérsia.
Paralelamente à sua actividade de escritor, Vasco Graça Moura exerceu advocacia (1968-76), ocupou diversos cargos institucionais, e tem sido, nos últimos trinta anos, um intelectual activo. Designadamente, fez parte (1974-75) da primeira comissão administrativa nomeada para a Câmara do Porto a seguir ao 25 de Abril; foi eleito, nas listas do PPD, deputado à Assembleia Constituinte (1975-76); integrou dois governos provisórios, na qualidade de Secretário de Estado da Segurança Social (IV Gov.) e de Secretário de Estado dos Retornados (VI Gov.); foi director do 1º. Canal da RTP (1978); dirigiu, durante cerca de dez anos (1979-88), a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, onde deu um impulso decisivo ao sector editorial e patrocinou a edição portuguesa da enciclopédia Einaudi; participou da task force para a reeleição do general Eanes (1980); foi vice-presidente do PEN Clube (1982-84); fez parte do Conselho Geral da Comissão Nacional da UNESCO (1983-87), de que se demitiu na sequência do caso do Courrier; liderou o «Movimento Contra o Acordo Ortográfico» (1986); foi nomeado representante de Portugal, no Comité Europeu do Conselho da Europa, para a Campanha Norte-Sul (1987); presidiu à comissão executiva das comemorações do centenário de Fernando Pessoa (1988); presidiu à Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1988-95); foi Comissário de Portugal para a Exposição Universal de Sevilha (1992); dirigiu a revista Oceanos até 1995; director da Fundação Casa de Mateus e membro do conselho consultivo da Fundação Luso-Americana.
Integrou várias comissões oficiais, relacionadas com os problemas do livro e da língua portuguesa; etc. Tem feito parte do júri de variados prémios literários. É membro de várias associações de escritores e críticos literários. Recebeu inúmeros prémios literários, entre os quais o Prémio Pessoa (1995), o Prémio de Poesia do PEN Clube (1997), o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1997) e o Grande Prémio de Romance e Novela APE/IPLB, 2004, bem como três prémios internacionais em Itália e Macedónia. Em 1998 foi-lhe atribuída a Medalha de Ouro da Cidade de Florença pelas suas traduções de Dante. Em 2002 recebeu também em Itália o prémio internacional «La cultura del mar». É oficial da Ordem de Santiago da Espada (1983) e da Ordem do Rio Branco (Brasil).
Escreveu e apresentou na televisão programas de poesia, em 1978 e 1985. Na sequência das eleições legislativas de 1995, foi demitido da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Quase em simultâneo, foi nomeado director do serviço de bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian e distinguido com o Prémio Pessoa. Em 1999, integrado na lista do PSD, foi eleito deputado ao Parlamento Europeu. Foi, desde Janeiro de 2012, presidente da Fundação Centro Cultural de Belém.
Organizou antologias de Pedro Homem de Mello (1983) e Vitorino Nemésio (1988). Co-traduziu poemas de Gunnar Ekelöf e outros poetas suecos.
Tem frequente intervenção pública como conferencista e colabora regularmente na comunicação social como cronista, comentador e analista político, para além de colaboração literária, também dispersa por vários jornais e revistas especializados. Encontra-se representado em diversas antologias de poesia. Vasco Graça Moura faleceu em Lisboa a 27 de Abril de 2014.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
05/2013