Ignorar Comandos do Friso
Saltar para o conteúdo principal
terça-feira, 30-04-2024
PT | EN
República Portuguesa-Cultura Homepage DGLAB

Skip Navigation LinksPesquisaAutores1

Biografia

Biografia
                  

Fernando Namora  
[Condeixa, 1919 - Lisboa, 1989]  

Fernando Namora
Ficcionista e poeta.

Fernando Namora licenciou-se em Medicina na Universidade de Coimbra em 1942. A sua vida de estudante liceal e universitário foi marcada por vicissitudes que desde muito cedo o projectaram para uma invulgar carreira de ficcionista, especialmente prolífica no género do romance.

Em 1943 dá a lume Fogo na Noite Escura na colecção «Novos Prosadores», colecção projectada para corresponder, na ficção, ao movimento literário designado por «Novo Cancioneiro». Para trás tinham ficado os primeiros livros de poemas e contos, o primeiro romance e uma presença activa na orientação e direcção de diversas publicações de índole literária. A crítica é unânime em reconhecer nos primeiros trabalhos daquele que viria a tornar-se um dos nomes mais importantes do Neo-Realismo a matriz presencista, conquanto assinalando a existência de mais «qualquer coisa» não perfeitamente ajustável à postulação teórica da corrente modernista.

É, contudo, a partir de Fogo na Noite Escura que começam a ganhar visibilidade na obra de Namora preocupações comuns às do movimento nascente, indo ao encontro do que ele próprio define como «a perspectiva histórica que lhe é oferecida». Na prática, trata-se de subscrever as posições do realismo socialista por oposição ao «psicologismo» da escola conotada por Régio com a «expressão vital individual do autor».

As mutações que ocorrem no quotidiano do médico escritor ao iniciar no país profundo a actividade profissional facilitam o crescente empenho na prospecção de casos humanos em ambientes não de todo estranhos, visto provir de uma família ligada ao cultivo da terra, cuja tradição seu pai interrompeu ao passar a explorar um pequeno estabelecimento em Condeixa.

O chamado «ciclo rural» corresponderá à permanência em Tinalhas (em pleno surto volframista), Monsanto da Beira e Pavia. Em 1944 transfere-se de Tinalhas para Monsanto, a fim de desempenhar as funções de médico municipal substituto. Mais tarde rumará a Pavia para idêntica prestação de serviço, mas como titular do cargo. O «ciclo rural», que se estende de 1943 a 1950, é tido como o período durante o qual se consagram o romancista e o novelista. São então publicadas as novelas Casa da Malta (escrita em oito dias!) e Minas de São Francisco (resultado, em boa parte, da amizade mantida com Manuel Vidal Almeida Lima, funcionário das minas da Mata da Rainha), os romances A Noite e a Madrugada e O Trigo e o Joio e esse surpreendente Retalhos da Vida de um Médico (1ª. série), que lhe dá projecção internacional a partir da edição espanhola prefaciada por Gregório Marañon.

O «ciclo urbano» caracteriza-se por uma situação de conflito declarado entre o «aldeão atarantado» e a sociedade lisboeta e tem o seu ponto mais agudo na forte controvérsia gerada em torno do romance O Homem Disfarçado, tanto no seio da classe médica como nos meios literários. A trabalhar no Instituto Português de Oncologia, de Lisboa, desde 1950, Namora aludirá em diversas ocasiões à condição de inadaptado à vida citadina, e Mário Sacramento escreverá a propósito: «Os que nele (O Homem Disfarçado) se pressentiram retratados atribuíram-no ao despeito ou à desforra de quem preferiu, a uma carreira «triunfal» de traficante do sofrimento alheio, a luta contra a alienação que tudo mascara.»

Viria a falecer no pleno uso das suas faculdades criadoras, não sem antes ter dado à estampa um punhado de grandes romances de temática citadina.

Deixou colaboração dispersa pelas revistas Sol Nascente, Diabo, Seara Nova, Mundo Literário, Ver e Crer, Presença, Altitude, Revista de Portugal, Eva, Vida Mundial Ilustrada, Vértice e outras.

É um dos escritores portugueses mais traduzidos em todo o mundo.

Pertenceu ao Instituto de Coimbra, à Instituição de Fernando, o Católico, de Saragoça, à Academia das Ciências de Lisboa, à Academia Brasileira de Letras, à Associação Brasileira de Escritores Médicos, e foi sócio do Instituto de História da Medicina, membro honorário da Universidade do Alasca, do Instituto Médico de Sófia e da Hispanic Society of America, de Nova Iorque. Em 1986, foi eleito membro da Academia Europeia das Ciências Artes e Letras.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997