Fernando Luso Soares
[Alenquer, 1924]
Advogado, professor universitário, ficcionista, dramaturgo, ensaísta e crítico.
Tem dedicado o essencial da sua vida ao mundo do Direito, com especial incidência na área do Direito Processual Civil, campo onde é reconhecidamente um dos nossos grandes mestres.
Magistrado do Ministério Público, em exercício durante oito anos, passou à licença ilimitada em 1955, dedicando-se desde então à advocacia. Foi assistente da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa durante quinze anos.
Personalidade de grande dimensão jurídica e cultural, é acima de tudo um homem de vocações múltiplas. Desde jovem, por influência do círculo de amigos de seu pai, «bebeu» da convivência com Pessoa, Botto, Luís de Montalvor e outros.
Tendo tido a oportunidade de conhecer de perto a técnica policial de Pessoa, até aí desconhecida, grande parte da sua produção literária será inapelavelmente marcada por essa circunstância. Reflexo disso, surgem as Notas para a Criação da Novela Policial em Fernando Pessoa e a antologia O Banqueiro Anarquista e Outros Contos do Raciocínio, onde nos são oferecidas passagens de contos policiais de Pessoa, obra que coloca definitivamente em causa a posição assumida por João Gaspar Simões em Vida e Obra de Fernando Pessoa, que afirmava que os textos policiais do poeta «não chegaram até nós».
Também em O Quinto Império, ensaio sobre a anatomia da esperança, se nota a influência de Pessoa.
Constitui obra de referência do autor, para além da citada antologia, a ficção O Parque dos Camaleões, esta apreendida pela PIDE.
Destaque ainda para O Mais Inteligente dos Estúpidos, obra de ficção que nos narra as peripécias de um indivíduo que, sendo tremendamente estúpido, resolve investigar o porquê de ser estúpido. O percurso que faz até encontrar essas razões faz com que o público pense que está perante um grande filósofo e pensador. É a ironia ao mais alto nível na obra ficcionista do autor.
No âmbito da sua obra jurídica, merecem particular realce o ensaio de lógica para juristas A Decisão Judicial e o Raciocínio Tópico-Abdutivo do Juiz, que constitui a dissertação de doutoramento do autor, e a monografia sobre A Responsabilidade Processual Civil.
Devem-se-lhe também importantes estudos sobre cultura portuguesa, em especial sobre o Padre António Vieira. Tem estudos criminológicos publicados em Investigação e outros estudos em Tempo Presente e Cronos.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998