Luísa Ducla Soares
[Lisboa, 1939]
Considerada uma das mais relevantes escritoras portuguesas na área da Literatura Infantil, Maria Luísa Bliebernicht Ducla Soares de Sottomayor Cardia esteve ligada ao grupo da revista Poesia 61 – que pretendia fundar em Portugal uma escola poética de cariz experimentalista, alternativa ao neo-realismo e ao surrealismo então em voga – e estreou-se em 1970 com o volume de poesia Contrato, embora poemas seus já surgissem em várias revistas e jornais desde 1951.
Em 1973 recusou, por razões políticas, o Grande Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho, do Secretariado Nacional de Informação (SNI), atribuído ao seu primeiro livro para crianças, A História da Papoila (1972).
Dedicou-se, desde então, à literatura para a infância e juventude, não só enquanto escritora mas também como estudiosa, participando regularmente em congressos e em projectos de divulgação e animação cultural em escolas e bibliotecas. Luísa Ducla Soares considera que o contacto directo com o público infantil é da maior importância para a promoção da leitura: «A escrita para crianças tem de ser, antes de mais, comunicação, e a recepção deles é essencial para que eu perceba se uma mensagem passa ou não.»
No decurso da sua actividade profissional – foi assessora e responsável pela Área de Pesquisa e Informação Bibliográfica da Biblioteca Nacional – desenvolveu trabalhos de investigação bibliográfica com vista à organização de diversas exposições e catálogos sobre Literatura Infantil.
Saliente-se ainda a participação da autora, por convite de João de Lemos, no suplemento infantil do Diário Popular (1972-1976) – em «O Doutor Sabichão» e depois no «Sábado Popular» – periódico onde surgiram diversos contos seus, tendo vários outros sido completamente cortados pela Censura. Foi este o caso de «O soldado João», no qual a autora abordava o problema da guerra colonial; o conto seria editado mais tarde, em volume autónomo.
Luísa Ducla Soares participou na revista didáctica Rua Sésamo (1990-1995) e os seus textos de ficção, poesia, artigos e crónicas surgem regularmente na imprensa portuguesa.
Segundo a autora, os livros de Júlio Verne e de Eça de Queirós estiveram na origem do seu gosto pela leitura e pela escrita. Durante as Comemorações do Centenário da morte do autor português (2000), homenageou-o através da publicação de três livros dedicados aos jovens: Com Eça de Queirós à roda do Chiado (1999), Com Eça de Queirós nos Olivais no ano 2000 (2000) e Seis Contos de Eça de Queirós (2000). «Convidei os meus leitores a passear pelos locais de Lisboa que o Eça refere. Fiz, assim, um roteiro da Lisboa queirosiana à volta do Chiado. [...] O meu objectivo foi abrir o apetite para ler o Eça a um público onde geralmente não chega – as crianças, que, no entanto, são muito sensíveis ao seu humor.»
O mesmo humor que, aliado à fantasia e ao non-sense, constitui uma das marcas distintivas da obra da autora: a irreverência da narrativa, chamando a atenção do leitor para situações absurdas e comportamentos determinados pelo preconceito, desmontados através de jogos de palavras, contribui para a tomada de consciência, por parte dos jovens, de uma multiplicidade de possíveis interpretações do mundo em que vivem.
A par das actividades referidas, Luísa Ducla Soares escreveu o guião dos vinte e seis capítulos que constituem «Alhos e Bugalhos», série televisiva sobre a língua portuguesa, transmitida pela RTP durante as Comemorações do Ano Europeu das Línguas (2001). No campo musical editou, em 1999, um CD intitulado 25, com letras de sua autoria e música de Susana Ralha. A UNICEF e a OIKOS organizaram em 1990 uma maleta pedagógica baseada no conto «Meninos de todas as cores», como apoio ao projecto escolar e exposição «Um Mundo de Crianças».
Autora muito apreciada pelo público e pela crítica, Luísa Ducla Soares viu em 1986 o seu livro 6 histórias de encantar receber o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças pelo Melhor Texto do Biénio 1984-1985. Dez anos mais tarde foi-lhe atribuído o Prémio Calouste Gulbenkian pelo conjunto da sua multifacetada obra.
Em 2004 foi nomeada para o Prémio Hans Christian Andersen da IBBY (International Board on Books for Young People), geralmente considerado o Prémio Nobel da Literatura para a Infância. Em 2019 foi nomeada para o Prémio ALMA - Astrid Lindgren Memorial Award.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
03/2019