Eugénio de Castro
[Coimbra, 1869 - Coimbra, 1944]
Poeta e professor universitário, introdutor e principal cultor em Portugal do simbolismo.
Contactou intimamente em Paris com os grandes poetas simbolistas franceses, no decurso da missão diplomática que desempenhou naquela cidade, onde se tornou amigo dos poetas Jean Moréas e Henri de Régnier. Mas não tardou a deixar a diplomacia, regressando a Coimbra e tornando-se ali professor universitário.
Embora tivesse publicado antes uns cinco livros de poemas, foi com Oaristos (1890) que Eugénio de Castro se projectou no mundo das letras, ao mesmo tempo que inaugurava entre nós a escola simbolista. Ninguém nessa altura lhe augurou grandes êxitos, mas a verdade é que foi entusiástica a adesão ao movimento por parte de jovens poetas, como M. da Silva Gaio, A. de Oliveira Soares, Alberto de Oliveira, D. João de Castro, Júlio Brandão, António Nobre, João Barreira, Justino de Montalvão, Alberto Osório de Castro, que, ao lado do mestre e sob os seus ditames, assumiram corajosa e galhardamente os títulos pejorativos de decadentes e «nefelibatas».
Multiplicam-se as revistas: Arte fundada e dirigida por Eugénio de Castro e Silva Gaio é uma revista internacional que, a par dos portugueses, divulga Verlaine, Gustave Khan e outros simbolistas europeus. Boémia Nova e Os Insubmissos reúnem entre os colaboradores nomes como António Nobre, Alberto de Oliveira e A. Osório de Castro. É certo que alguns destes poetas transitaram posteriormente para outras formas de escrita e para outras revistas mais inovadoras.
Mas o prestígio de Eugénio de Castro permanece intacto e o seu trabalho literário nunca esmorece. Depois de ter lançado na circulação temas e formas inovadoras, depois de em pequenos e grandes poemas dramáticos povoados por personagens delirantes ter dado voz ao tédio, ao pessimismo e ao spleen da sua geração – em livros como Interlúnio (1894) ou Sagramor (1895) –, retorna sem remorsos aos metros e aos temas líricos tradicionais. Admirador incondicional de João de Deus, cultivará a quadra popular e, na mira de atingir sempre o máximo de musicalidade, vaza em moldes classicistas (éclogas, odes) ideias e imagens inovadoras.
Na sua obra vasta contam-se também tentativas de teatro em prosa (Belkiss, 1894) e 2 vols. de Cartas de Torna-Viagem (1926-1927), crónicas e evocações. E traduções: de Goethe (Poesias de Goethe, 1909) Horácio e de alguns epigramas gregos.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994