Agostinho de Campos
[Porto, 1870 - Lisboa, 1944]
Jornalista, professor e escritor.
Embora licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, cedo Agostinho de Campos trocou a advocacia pela carreira docente, ensinando Português em Hamburgo e Alemão no Liceu Central de Lisboa e na Casa Pia. Director-geral da Instrução Pública como professor efectivo do Liceu Pedro Nunes, foi, em 1932 convidado por Eugénio de Castro, secundado por Joaquim de Carvalho, para o cargo, vago por morte do Mendes dos Remédios e que ocupou no ano seguinte, de professor catedrático de Filologia Românica na Faculdade de Letras de Coimbra, tendo mais tarde transitado para Lisboa (1938).
A par desta intensa actividade docente, colaborou em numerosos jornais e revistas (começando pelo O Primeiro de Janeiro, do Porto) com artigos de crítica literária e temas políticos, pedagógicos, linguísticos; defendeu nomeadamente a unidade linguística luso-brasileira, e apontou, corrigindo-os com saudável e benéfico humor – numa profiláctica acção que bem necessária seria hoje –, erros da linguagem escrita da época.
A sua obra sofre, é certo, com a dispersão dos assuntos a que se dedicou, sendo prejudicada por certo conservadorismo de conceitos. De algum modo pode considerar-se Agostinho de Campos, quando no auge da sua carreira, o «paladino mais actuante na defesa de uma literatura de "tradição"», nas palavras de David Mourão-Ferreira.
Entretanto, na sua tribuna semanal do Comércio do Porto não deixou de saudar e louvar, sempre em jeito desempoeirado e ameno, o Fernando Pessoa da Mensagem, o Carlos Queirós do Desaparecido, o José Régio das Encruzilhadas de Deus. E será justo ter presente o seu culto por Eça de Queirós, «o prosador que fez poesia em prosa» e «genial artista da palavra», ao qual dedicou dois volumes da sua Antologia Portuguesa.
Salientou-se ainda como conferencista, com brilhantes trabalhos sobre educação e história da literatura. Colaborador da História da Colonização Portuguesa do Brasil, da História da Literatura Portuguesa Ilustrada e da Miscelânea de Estudos em Honra de D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, foi o organizador dos 24 vols. da Antologia Portuguesa, onde figuram muitos dos nomes mais grados da nossa história literária, sendo pena que, decerto por o editor ter cessado a colecção, louvada e recomendada pelo ministro da Instrução Pública em 1920, nela não chegasse a incluir um volume dedicado a António Nobre, seu companheiro juvenil de Coimbra e para quem era, familiarmente, o «Agostinhas» (ver Correspondência do poeta).
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994