Alice Pestana
[Santarém, 1860 - Madrid, 1929]
Escritora, jornalista, pedagoga, feminista e pacifista.
De grande cultura, abrangendo vários idiomas, as letras, as ciências e a música, escreveu em inglês, francês, espanhol e português. O seu primeiro artigo em língua inglesa foi publicado na revista The Financial and Mercantile Gazette e consistia numa crítica à tradução do Hamlet feita por D. Luís I.
Interessada na política do seu tempo, colaborou no Espectro da Granja, com o pseudónimo de Célia Elevani (anagrama de Alice Evelina). Colaborou também na revista Repúblicas, que Camilo Castelo Branco e Tomás Ribeiro dirigiam, aqui com os pseudónimos Caïel e Eduardo Caïel, e ainda nos jornais Vanguarda, Folha do Povo e Diário de Notícias, servindo-se dos pseudónimos referidos e ainda do de Cil.
Em 1888 viajou pela Suíça, França e Inglaterra em missão do Governo para recolha de elementos que conduzissem ao aperfeiçoamento do ensino secundário feminino. O seu relatório, considerado notável, foi publicado no Diário do Governo. Em 1892, no Congresso Pedagógico Hispano-Português-Americano, realizado por ocasião das comemorações do 4º. Centenário da Descoberta da América, apresentou a tese «O que deve ser a instrução secundária da mulher?» defendendo a necessidade da educação da mulher como condição necessária à concretização de uma sociedade democrática e justa.
Em 1893 volta ao estrangeiro em missão oficial, e no Tempo publica as suas impressões de viagem. De 1894 a 1900 tem um período de intensa criação literária, mas em que também escreve sobre questões pedagógicas e colabora em O Tempo, Correio da Noite, O Século.
Foi responsável pela fundação da Liga Portuguesa da Paz (considerada a primeira organização feminista em Portugal) em 1899 e sua primeira presidente. Em representação da Liga esteve presente na Conferência da Paz de Haia, no ano seguinte. Pertencia também à Sociedade Altruísta desde 1896.
Casada em Lisboa com o professor espanhol Pedro Blanco Suárez, vai viver com o marido para Madrid (1901) onde ingressa como professora na Institución de Libré Enseñanza (mais tarde Fundación Francisco Giner de los Ríos) em cujo boletim (BILE) colabora a par de Bertrand Russel, Henri Bergson, Darwin, Tolstoi, Maria Montessori e Miguel de Unamuno, entre outros grandes vultos da cultura mundial. É encarregada em 1914, pelo Governo espanhol, de vir a Portugal estudar o nosso método de ensino feminino, publicando em 1915 La Educación en Portugal.
Caïel é um dos nossos primeiros autores da literatura infanto-juvenil. Dirigiu a Revista Branca (1899-1900), «dedicada aos pequenos e aos novos». Foi uma das fundadoras do Protectorado del Niño Delincuente.
Em 1930 publicou-se em Madrid o seu In Memoriam, que abre com dois textos, sobre Caïel, de Teófilo Braga e Bernardino Machado.
Centro de Documentação de Autores Portugueses
10/2009