A. Gonçalves Rodrigues
[Bragança, 1906 - ?, 1999]
Ensaísta, professor universitário e historiador da cultura em Portugal.
Formou-se em Filologia Germânica em 1929. Frequentou durante dois semestres a Universidade de Berlim (1927-28), graças a uma bolsa concedida pela Fundação Alexander von Humboldt. Pouco depois da criação da Junta Nacional de Educação e a cargo desta instituição, foi para Bona (Alemanha) de forma a concluir a sua dissertação de licenciatura sobre Novalis e o Medievalismo Romântico (1929).
Especializou-se em Londres no King's College e foi investigador do então denominado Museu Britânico, onde exerceu intensa actividade. Os seus primeiros trabalhos foram o que questionou a autenticidade das Lettres Portugaises (1933); e D. Francisco Manuel de Melo e o Descobrimento da Madeira (1935), que revelou pela primeira vez em Portugal a Relação de Francisco Alcoforado sobre que se baseia a célebre Epanáfora Amorosa, até ali tida como fantasiosa.
Durante anos realizou pesquisas sistemáticas nas bibliotecas europeias, que lhe permitiram lançar a hipótese de que as célebres cartas não seriam da religiosa portuguesa, mas sim da autoria do seu pretenso tradutor, o conde Lavergne de Guilleragues. Dez anos de investigações em Londres e Oxford revelaram textos desconhecidos, ou considerados perdidos, do Cavaleiro de Oliveira, os quais foi publicando antes e durante a 2ª. guerra mundial. Durante este período participou, a convite do embaixador Armindo Monteiro, na organização dos serviços portugueses da BBC, o que lhe atrasou a carreira universitária.
Doutorado em 1951 com a tese O Protestante Lusitano: Estudo Biográfico do Cavaleiro de Oliveira, entrou em polémica com o escritor Aquilino Ribeiro, publicando na altura O Senhor Aquilino Ribeiro, o Cavaleiro de Oliveira e Eu.
Professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa (1951-1975), aí desempenhou funções directivas e foi vice-reitor da Universidade, depois do abandono deste cargo pelo Prof. Marcelo Caetano, durante uma época conturbada da vida académica. A sua actividade pedagógica prolongou-se com a fundação do Instituto Superior de Línguas e Administração (1962), primeiro estabelecimento de ensino superior privado em Portugal.
A obra do autor encontra-se em parte dispersa na revista Biblos, caracterizando-se pela seriedade e rigor metodológico, e constitui uma contribuição para a história da cultura em Portugal.
É sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997