Armando Côrtes Rodrigues
[Vila Franca do Campo/São Miguel/Açores, 1891 - Ponta Delgada, 1971]
Poeta, dramaturgo e etnógrafo açoriano, da primeira geração modernista. Seu nome completo era Armando César Côrtes Rodrigues (sem hífen).
Tinha apenas alguns meses de vida quando ficou órfão de mãe e seis anos quando o pai (o poeta César Rodrigues) casou pela segunda vez. A sua infância e adolescência decorreram em ambiente familiar e social muito fechado, tradicionalista e freirático, primeiro em Vila Franca do Campo, onde o pai exercia clínica (1891-1900), e depois em Ponta Delgada, onde estudou as primeiras letras e faz parte do curso dos liceus em regime de internato sob a orientacão dos padres da Congregação Missionária do Espírito Santo (1900-1908). Só nos últimos dois anos dos estudos secundários foi aluno externo, seguindo então as aulas do antigo Liceu da Graça (1908-1910).
Frequentou, depois, o Curso Superior (entretanto mudado em Faculdade) de Letras de Lisboa (1910-1915), licenciando-se em Filologia Românica e ingressando, em 1917, na carreira docente, em Ponta Delgada. Nesta cidade foi professor do Liceu até 1959, apenas com uma interrupção de três anos (1921-1924), em que leccionou no Liceu de Angra do Heroísmo.
Quase não voltou a sair dos Açores. Apenas visitou Paris por duas vezes, em 1939 e em 1960, e ainda se deslocou ao continente em 1953 para receber o Prémio Antero de Quental, atribuído nesse ano ao seu último livro de poesia.
A sua vida literária só começou propriamente em Lisboa no âmbito do movimento modernista, de que foi um dos iniciadores, com Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, etc. Colaborou nessa altura nas revistas A Águia (1913), Orpheu I e II (1915) e Exílio (1916), na primeira ocasionalmente e por intermédio e a pedido de Fernando Pessoa, então ligado ao grupo da Renascença Portuguesa, e em Orpheu II com o pseudónimo de Violante de Cysneiros.
A herança simbolista e decadentista que o modernismo investiu na primeira fase da sua trajectória sob a designação de paulismo reflecte-se na sua poesia dessa época, assim como o interseccionismo (principalmente em Orpheu I). Daí o seu «parentesco» com Mário de Sá-Carneiro assinalado por Fernando Pessoa (ver carta n°. 24 de Sá-Carneiro, ed. Ática), mesmo antes de o paulismo se ter constituído como movimento.
Pouco depois do seu regresso aos Açores, porém, aderiu ao Integralismo Lusitano (1916) e deixou-se «[embrenhar] demasiado [...] no catolicismo campestre» (F. Pessoa), ao qual a educação na infância e na adolescência o havia tornado propenso; ao mesmo tempo, começou a compreender «nas coisas e nas almas [das] ilhas» (segundo ele mesmo) «a força prodigiosa da tradição portuguesa». Em consequência, abandonou o campo modernista e enveredou pela poesia e pelo teatro regionalistas, inspirando-se no folclore local e assumindo uma visão franciscana do mundo na sua interpretação da paisagem geográfica e humana (social) da ilha. Desde então dedicou-se também a estudos etnográficos, tendo realizado uma vasta recolha da literatura oral nos campos do romanceiro, do cancioneiro e do adagiário açorianos.
A partir de 1942 (por acaso, o ano em que se iniciava em Lisboa a publicação das obras completas de Fernando Pessoa), a sua poesia mudaria outra vez de rumo, agora no sentido de retomar a tradição modernista que tinha ajudado a instaurar na literatura portuguesa. Colaborou, com poemas, no último número da Presença (1940), nos Cadernos de Poesia (nº. 2, 1940) e no Atlântico (nº. 3, 1943).
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. III, Lisboa, 1994