Maria Alberta Menéres
[Vila Nova de Gaia, 1930]
Maria Alberta Menéres nasceu em Vila Nova de Gaia, em 25 de Agosto de 1930. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e foi professora do Ensino Técnico, Preparatório e Secundário (de 1965 a 1973). Traduziu e adaptou para crianças várias obras de língua francesa, entre elas contos de Perrault e fábulas de La Fontaine.
De 1972 a 1974 dirigiu no Diário Popular a secção «Iniciação Literária». Este trabalho serviu de base à obra O Poeta faz-se aos dez anos (1974), que continua sendo um dos mais interessantes livros portugueses de iniciação a uma pedagogia da poesia. Publicou também livros didácticos, como O livro aberto (1975), em colaboração com António Torrado.
De 1975 a 1986 foi Directora do Departamento de Programas Infantis e Juvenis da Radiotelevisão Portuguesa, sendo autora e produtora de inúmeros programas televisivos para crianças e jovens. Pertenceu à Comissão de Classificação de Espectáculos Cinematográficos (Ministério da Comunicação Social), de 1974 a 1982, desempenhando aí diferentes funções, e foi Assessora do Provedor de Justiça, como responsável pela linha «Recados das Crianças», de 1993 a 1998.
Tem colaboração literária em vários jornais e nas revistas seguintes: Sibila, Távola Redonda, Ocidente, Contravento, Cadernos do Meio-Dia, Horizonte, Estudos de Castelo Branco, Gazeta Literária, Hidra – I, Colóquio/Letras, Palavras, entre outras.
Além de ter ela própria co-organizado importantes antologias da poesia portuguesa contemporânea, Maria Alberta Menéres está representada, enquanto poetisa, em várias antologias nacionais e estrangeiras (Itália, Estados Unidos da América, Bélgica), das quais se destacam Líricas Portuguesas, Antologia do conto fantástico português, Vinte anos de poesia, Dichters en Dichtkunst Uit Europa (1950-1980) (Lovaina).
Tendo publicado para adultos, além de narrativas, diversos títulos de poesia (merecedores de leitura atenta, pela qualidade que os distingue), a sua obra integra ainda livros infantis didácticos e livros para crianças, incluindo, neste âmbito, contos, poesia, textos dramáticos e narrativas de aventuras. É co-autora, com Natércia Rocha (v.) e Carlos Correia (v.), da «Colecção 1001 Detectives», iniciada em 1987, com 16 títulos publicados até 1996, no domínio da narrativa de mistério e indagação.
Recebeu o Prémio Internacional de Poesia «Giacomo Leopardi», em 1961, com o livro, para público adulto, Água-memória, de 1960, e o Prémio Especial de Teatro Infantil da Secretaria de Estado da Cultura, em 1979, com o texto, então inédito, O que é que aconteceu na terra dos Procópios?. À beira do Lago dos Encantos (1988) mereceu uma Menção Honrosa da Secretaria de Estado da Cultura, em 1987, quando inédito. Foi distinguida ainda com o Prémio «O Ambiente na Literatura Infantil Portuguesa», em 1990, pelo livro de poesia No coração do trevo e, em 1986, com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian da Literatura para Crianças, pelo conjunto da sua obra.
Na sua vasta obra (com textos inúmeras vezes reeditados, como Ulisses), os livros de contos têm com frequência um cariz didactizante, essencialmente de sensibilização para o respeito pela Natureza, tomando como ponto de partida situações do quotidiano. O humor e a atenção às pequenas coisas da existência humana e da vida natural, o apelo a um olhar demorado e atento sobre o mundo que rodeia a criança são imagens de marca da sua prosa. A nível discursivo, a repetição é uma estratégia frequente, contribuindo para uma leitura/audição ritmada e para a criação de suspense na acção, pela demora no desenrolar do discurso, remetendo também para o ritmo próprio do contar oral, característico dos livros de contos da Autora. É de salientar, também, a qualidade das suas peças de teatro infantil.
No domínio da poesia, constitui-se, sem sombra de dúvida, como uma das mais estimulantes criadoras da nossa literatura para a infância, devendo sublinhar-se a qualidade poética intrínseca da sua linguagem, quer quando envereda pelo nonsense e se inspira na tradição das «rimas infantis» populares (em Um peixe no ar, por exemplo) quer quando exprime um lirismo fundo e sensível, de cunho ecológico ou outro, como acontece em No coração do trevo.
Bibliografia selectiva: Conversas com Versos (1968), Lisboa: Afrodite; Figuras Figuronas (1969), Lisboa: Portugália; Ulisses (1972), Porto: ASA, 1996; A pedra azul da imaginação (1975), Lisboa: Plátano; A lengalenga do vento (1976), Lisboa: Plátano; Hoje há palhaços (1977), Lisboa: Plátano (em co-autoria com António Torrado); Um peixe no ar (1980), Lisboa: Plátano; O que é que aconteceu na Terra dos Procópios? (1980), Lisboa: Moraes Editores; O ouriço-cacheiro espreitou três vezes (1981), Porto: ASA; O livro das sete cores (1983), Lisboa: Moraes (em co-autoria com António Torrado); Histórias em ponto de contar: Sobre desenhos de Amadeo de Souza-Cardoso (1984), Lisboa: Comunicação (em co-autoria com António Torrado); O retrato em escadinha (1985), Lisboa: Horizonte; Dez dedos, dez segredos (1985), Lisboa: Latinas / Polygram (incluindo cassette e disco); Aventuras da Engrácia (1985), Porto: ASA; À beira do Lago dos Encantos (1988)Lisboa: Rolim; Uma palmada na testa (1993), Lisboa: Verbo, 1996; A gaveta das histórias (1995), Venda Nova: Bertrand; Passinhos de Mariana (2004), Porto: ASA; Camões, o super-herói da Língua Portuguesa (2010), Porto: ASA.
[Maria da Natividade Pires; José António Gomes]
02/2012