Álvaro Magalhães
[Porto, 1951]
Álvaro Magalhães nasceu no Porto, em 1951. É autor de poesia, de um notável estudo sobre futebol, de crónicas para adultos (muito centradas numa visão simultaneamente psicológica e antropológico-cultural do chamado desporto-rei), e ainda de guiões para séries de televisão. Inicialmente, foi funcionário do Tribunal do Trabalho do Porto, tendo acumulado essa actividade profissional com a de editor de poesia (criou a chancela Gota d’Água, onde foram publicados importantes poetas portugueses contemporâneos). Posteriormente, passou a viver exclusivamente da escrita, concentrando-se fundamentalmente na criação literária destinada ao público infantil e juvenil (área em que se estreou, em 1982).
Com uma obra muito vasta, diversificada, e reconhecida pela crítica, que tem motivado artigos de fôlego e estudos académicos, publicou peças de teatro quase sempre resultantes de colaborações com a companhia portuense de teatro infantil Pé de Vento (Todos os rapazes são gatos, Enquanto a cidade dorme, etc.), poesia e sobretudo narrativas para crianças e jovens. Estas diferentes modalidades de escrita configuram, no entanto, uma obra exemplar do ponto de vista da intertextualidade homo-autoral e com uma visível unidade ideotemática.
Entre os seus muitos títulos, na área da narrativa, destacam-se: O menino chamado menino, Isto é que foi ser, Maldita matemática!, O homem que não queria sonhar e outras histórias, Os três presentes, Três histórias de amor, Hipopóptimos, uma história de amor e os vários volumes, de assinalável sucesso, da colecção juvenil «Triângulo Jota», como O olhar do dragão, Guardado no coração, Pelos teus lindos olhos, O Rei Lagarto, A bela horrível, entre outros, que estiveram na origem de uma série televisiva, e cujos títulos (por vezes também os conteúdos) se relacionam intertextualmente com os de certas obras nas esferas do cinema e da música pop. Se, na colecção «Triângulo Jota», predominam os enredos de cunho mais ou menos policial, por vezes no domínio do estranho, protagonizados por três adolescentes, em romances como A ilha do Chifre de Ouro e O último Grimm o fantástico marca presença. Ainda no campo da ficção para jovens, são de destacar as séries «Os Invisíveis» (em parte centrada no universo do futebol) e as divertidas «Crónicas do vampiro Valentim».
Já em Histórias pequenas de bichos pequenos, o Autor cultiva o micro-conto com mestria, sentido de humor e nonsense, revelando, por outro lado, especial talento imaginativo nos seus livros de narrativas breves, aos quais imprime, por vezes, uma certa espiritualidade, como aliás sucede na poesia e no teatro. É de salientar ainda a série dos «Contos da Mata dos Medos» (Contos da Mata dos Medos, A criatura medonha – Novos contos da Mata dos Medos, Um problema muito enorme – Novíssimos contos da Mata dos Medos, O Lugar Desconhecido – Últimos Contos da Mata dos Medos), onde se torna mais visível a influência de autores que constituem referências, assumidas ou não, para Álvaro Magalhães, como A. A. Milne, Kenneth Grahame, Lewis Carroll ou mesmo Manuel António Pina, cuja sombra tutelar já surgia noutros livros, através de citações e do perfil e nome de certas personagens. À primeira vista apresentando-se como obras de temática ambiental e ecológica, este conjunto revela-se, em boa verdade, uma singular meditação sobre a linguagem e sobre tópicos intemporais como o medo e a morte, entre outros.
No domínio da poesia para jovens, publicou O reino perdido e O Limpa-Palavras e outros poemas (nomeado para a Lista de Honra do IBBY – International Board on Books for Young People, em 2002), duas notáveis colecções de composições poéticas onde ressurgem alguns dos tópicos mais habituais neste Autor, como a entronização da infância e da adolescência, o poder da imaginação e da palavra, o sortilégio da noite, a relação afectuosa com os animais, o desejo, o amor e a morte, entre outros.
Com títulos traduzidos para galego e castelhano, a obra de Álvaro Magalhães foi distinguida publicamente por diversas vezes. Refira-se, por exemplo, o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças de 2002 atribuído a Hipopóptimos.
Bibliografia selectiva: O menino chamado menino (1983), Porto: ASA; Isto é que foi ser (1984), Porto: Afrontamento; Histórias pequenas de bichos pequenos (1985), Porto: ASA; O reino perdido (1986), Porto: ASA; Os três presentes (1987), Porto: ASA; O homem que não queria sonhar e outras histórias (1988), Porto: ASA; O olhar do dragão (1989), Porto: ASA, col. «Triângulo Jota»; Maldita matemática! (1990), Porto: Areal; Guardado no coração (1993, vol. 1; 1994, vol 2), Porto: ASA, col. «Triângulo Jota»; A ilha do Chifre de Ouro (1999), Lisboa: Dom Quixote; O Limpa-Palavras e outros poemas (2000), Porto: ASA; Hipopóptimos, uma história de amor (2001), Porto: ASA; Três histórias de amor (2003), Porto: ASA; O último Grimm (2007), Porto: ASA; Todos os rapazes são gatos (2004), Porto: ASA; Contos da Mata dos Medos (2003), Lisboa: Assírio & Alvim; O Segredo (2007), Porto: ASA; Os Invisíveis – O futebol ou a vida (2009), Lisboa: Quidnovi, col. «Os Invisíveis»; O Lugar Desconhecido – Últimos Contos da Mata dos Medos (2010), Lisboa: Texto; O amor faz-te mal, Valentim (2010), Porto: ASA, col. «Crónicas do Vampiro Valentim».
[José António Gomes]
02/2012