Lília da Fonseca
[Benguela, Angola, 1916 - Lisboa, 1991]
Lília da Fonseca foi o nome literário de Lígia Valente da Fonseca Severino, nascida em 21 de Maio de 1916, em Benguela (Angola) e falecida em 13 de Agosto de 1991. Estudou no Liceu Infanta D. Maria, em Coimbra, e no Liceu Carolina Michäelis, no Porto. Jornalista e escritora, colaborou em vários jornais e revistas de Angola e também nas revistas Modas e Bordados, Os Nossos Filhos – essencialmente vocacionadas para um público feminino –, Seara Nova, no jornal Acção. A sua produção literária – Panguila (romance); Poemas de hora presente (poesia); Filha de branco (conto); O relógio parado (romance), etc. – distribui-se pela narrativa, pelo teatro e pela poesia, mas é essencialmente a sua escrita para crianças, com numerosos títulos, que lhe concede destaque no panorama literário português, incidindo, esta, em poesia (O realejo de lata), contos e textos dramáticos, incluindo textos escritos para teatro de fantoches. Dirigiu, aliás, o Teatro de Marionetas «Branca-Flor», que teve uma existência de duas décadas (1962-1982) e uma importância digna de nota, na história do teatro infantil em Portugal.
A sua obra para crianças é essencialmente didáctica e moralista, vertente que se mantém ainda nos seus últimos livros, como pode ser exemplificado com o conto Os ladrões das barbas de arame farpado, de 1989. As personagens crianças manifestam, no entanto, uma certa autonomia e é notória a preocupação com a consciencialização para os problemas sociais (pobreza, desemprego, etc.), aspecto em que a sua escrita de algum modo se liga ao neo-realismo. O primeiro livro que publica, em 1941, é constituído por um conjunto de novelas – A mulher que amou uma sombra –, o seguinte, O corte sem mestre, de 1942, é um livro técnico-profissional, ao qual se seguirão vários do mesmo género, além de diversos títulos para o público adulto. É também na década de 40 que publica os primeiros livros para crianças, como A menina tartaruga, As três bolas de sabão, em 1943, e outros como As botas saltaricas, A borboleta azul, As formigas aventureiras, etc.
O Prémio João de Deus foi atribuído, em 1960, ao livro O malmequer das cem folhas e, em 1963, a O livro da Teresinha. O livro do Adelininho fez parte da "Honour List" do IBBY (International Board on Books for Young People), em 1970.
Personalidade de carácter civicamente interventivo, ligada aos meios oposicionistas durante a ditadura salazarista e marcelista e com uma faceta de dinamizadora cultural, muito atenta à condição da infância, foi responsável pela criação da Secção Portuguesa do IBBY, em 1968, e, também por isso, uma figura pioneira na sensibilização do público para a importância social, pedagógica e estética da escrita para crianças. No XIV.º Congresso do IBBY, realizado no Rio de Janeiro em 1974, apresentou a comunicação "Pequena história da literatura para a infância e juventude".
Bibliografia selectiva: Lagartinha da couve (1945), Lisboa: Clássica; A história do gato gatão (1946), Lisboa: Clássica; A chegada do Grão Turco (1947), Lisboa: Clássica; O malmequer das cem folhas (1959), Lisboa: Orion; O livro da Teresinha (1962), Lisboa: Seara Nova; O clube das três aldeias (1961), Lisboa: Seara Nova, 1967; O livro do Adelininho ([1969]), [Lisboa], Edição da Autora; O realejo de lata (1971), Torres Vedras: Edição da Autora; Um passeio ao jardim zoológico (1983), Lisboa: Ulmeiro; Os ladrões das barbas de arame farpado (1989), Lisboa: Horizonte.
[Maria da Natividade Pires; José António Gomes]
02/2012