António Torrado
[Lisboa, 1939 - Lisboa, 2021]
António Torrado, nascido em 1939, tem sido consecutiva ou simultaneamente pedagogo, com livros para professores e alunos, jornalista, editor, produtor e argumentista para televisão e escritor. Na área da literatura infantil é consensualmente considerado um dos autores mais importantes, tendo obtido, em 1988, o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças, entre outros prémios: O veado florido constou da IBBY Honour List de 1974; Como se faz cor de laranja obteve o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças (texto) de 1980; O adorável Homem das Neves, o Prémio de Teatro Infantil da Secretaria de Estado da Cultura, em 1984.
Na sua extensa (mais de duas centenas de títulos) e multifacetada obra, que abrange textos de inspiração popular e outros de um imaginário pessoal; histórias curtas ou complicados enredos; teatro, alguma poesia, mas sobretudo contos, sublinhemos algumas linhas de força.
Revela-se exímio na arte de conservar audível, entre as páginas do livro, a frescura da voz, quer narre um conto inspirado no quotidiano que um elemento invulgar desassossega (A escada de caracol), quer reconte uma história do património oral (a colecção «Histórias Tradicionais Contadas de Novo por António Torrado», recomendada em 1985 pelo júri do Prémio Calouste Gulbenkian, consta dos programas oficiais de Língua Portuguesa, 5.º ano).
Conceitos e valores subjazem a todos os seus contos, já que o autor admite que a história para crianças nunca é, como mensagem, inocente. Citem-se entre outros temas: a liberdade de expressão (O pajem não se cala); a valorização dos mais fracos (O corvo das asas cortadas); o desportivismo (O elefante não entra na jogada).
Trocadilhos e aliterações, a introdução no quotidiano de um elemento escapado do mundo-ao-contrário, tudo lhe serve para fazer sorrir, conivente, o leitor (O jardim zoológico em casa, Os meus amigos).
Mais do que pela (re)escrita de rimas do património oral, que procurou divulgar junto dos mais novos com a «Colecção Caracol», ou de poemas como Devagar ou a correr, a semente da poesia floresce em textos alegóricos: O veado florido, O mercador de coisa nenhuma, ou nos contos de ambiente oriental.
Uma outra constante tem sido a parceria literária com Maria Alberta Menéres, com a qual assinou um apreciável número de livros: de teatro (Hoje há palhaços), contos (Uma história aos quadradinhos), poesia (O livro das 7 cores), prosa poética (Histórias em ponto de contar).
Bibliografia selectiva: O veado florido (1972), Porto: Civilização; O pajem não se cala (1981), Porto: Civilização, 1992; A escada de caracol e outras histórias da minha rua (1977), Lisboa: Plátano; O mercador de coisa nenhuma (1969), Porto: Civilização, 1994; Os meus amigos (1983), Porto: ASA; O elefante não entra na jogada (1986) Porto: ASA; As estrelas: quando os três reis eram príncipes (1996), Porto: Civilização; Teatro às três pancadas (1996), Porto: Civilização; Os Doze de Inglaterra seguido de O guarda-vento (2000), Lisboa: Caminho; Como quem diz (2005), Lisboa: Assírio & Alvim; Salta para o saco (2006), Porto: Civilização; Era uma vez quatro (2007), Lisboa: Caminho.
[Maria José Costa]
10/2011