Manuel Mendes
[Lisboa, 1906 - Lisboa, 1969]
Jornalista, escultor de mérito reconhecido e crítico de arte, foi todavia como escritor que se notabilizou publicamente.
Atingiu maioridade intelectual por volta de 1926, ano em que se inaugurou a mais longa ditadura do país, contra a qual se manifestou como estudante, nas greves académicas de 1928 e 1931. Realizou a sua estreia na vida cívica e cultural no convívio com Raul Brandão, de quem foi o mais fiel e devotado divulgador, António Sérgio, Raul Proença, Jaime Cortesão, Câmara Reys, Mário de Azevedo Gomes e, por acréscimo, nas páginas da revista Seara Nova. A partir de 1941 colaborou com Bento de Jesus Caraça na «Biblioteca Cosmos», sobretudo como biógrafo.
Interveio activamente nas campanhas da Oposição Democrática, foi membro da Frente Popular durante a Guerra Civil de Espanha e, nessa qualidade, visitou a Inglaterra, a França e a Espanha republicana. Em 1945 foi um dos dinamizadores do Movimento de Unidade Democrática, vindo a ser membro da sua comissão central. Membro da Resistência Republicana e Socialista em 1953, veio a aderir à Acção Socialista Portuguesa em 1964 e foi posteriormente eleito para a direcção desta organização.
Com toda a sua obra de escritor condicionada pela censura prévia, apenas nos jornais clandestinos e manifestos da Oposição Democrática a sua pena exprimiu de forma contundente aquilo que sentia. A sua obra oscila entre um populismo de plástica directa e o primeiro neo-realismo, numa prosa que lembra, no retoque escorreito, não o experimentador de estilos, mas o leitor e seguidor atento dos clássicos.
Diz o crítico Alexandre Pinheiro Torres que «para se saber o que foi a Lisboa nos primeiros quinze anos depois da guerra, ou como viveu a capital portuguesa nos nove décimos da sua mísera gente trabalhadora, a tal que desaparece veloz, após o trabalho, para os tugúrios onde repousa do estafamento, é imperativamente necessário mergulhar nos três volumes de Bairro.»
A sua obra mais conhecida, Pedro: romance de um vagabundo (1954), foi adaptada ao cinema, por Alfredo Tropa, com o título de «Pedro Só» (1972).
Colaborador assíduo da imprensa periódica, deixou dispersa parte da sua obra nas revistas Seara Nova, Revista de Portugal e Vértice, e no vespertino República.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997 [revisto em maio de 2012]