Ana Paula Tavares
[Lubango (Huila), Angola, 1952]
Ana Paula Ribeiro Tavares nasceu em 1952, no Lubango, província da Huíla (Angola). Integrando a "novíssima geração de 80", a autora é uma das vozes femininas angolanas que desde sempre tem manifestado uma grande preocupação com a condição da mulher em Angola. A sua utilização da palavra poética através de um "sujeito poético" feminino, é veículo de denúncia, afirmação e de libertação da carga tradicional, enquanto jugo opressor da mulher africana nos seus diferentes contextos sociais e culturais.
Bacharel em História pela Faculdade de Letras de Lubango (1973) e licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1982), concluiu o Mestrado em Literatura Africana pela mesma instituição em 1996. Doutorou-se em Antropologia (Etnografia) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, com a tese História, Memória e Identidade: Estudo sobre as sociedades Lunda e Cokwe de Angola.
Atualmente, é coordenadora do Grupo de Investigação 2 do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa — dedicado às Culturas e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa — e leciona na mesma instituição.
Ao longo da sua carreira, desempenhou diversos cargos de relevo em Angola e em Portugal. Foi professora de História em Angola desde 1973, delegada do Ministério da Cultura no Kwanza-Sul (1978–1980), Técnica Superior do Museu Nacional de Arqueologia em Benguela (1980–1983), Diretora Nacional do Património Cultural em Luanda (1985–1987) e Diretora do Gabinete Técnico da Secretaria de Estado da Cultura (1987–1991). Em Portugal, foi Professora Assistente da Universidade Católica Portuguesa entre 1994 e 2000.
Participou em inúmeros encontros científicos nacionais e internacionais, integrando também várias comissões de relevância cultural e académica, entre as quais se destacam a Comissão de Reestruturação da Universidade Agostinho Neto, a Comissão para a criação do Ministério da Cultura de Angola e a Comissão para o projeto de fundação da Faculdade de Ciências Sociais em Angola.
Como escritora, é autora de poesia, crónica e romance. A sua obra poética distingue-se pela simplicidade e pela evocação lírica da ancestralidade, enquanto questiona tradições patriarcais e estruturas sociais que perpetuam a opressão feminina. Entre os seus livros de poesia destacam-se Ritos de Passagem (1985), O Lago da Lua (1999), A Cabeça de Salomé (2004) e Manual para Amantes Desesperados (2007). Em co-autoria com Catarina Madeira Santos, publicou Africae Monumenta: o Arquivo de Caculo Cacahenda (2002), resultado do seu trabalho de investigação histórica.
A sua obra tem sido amplamente reconhecida, tendo recebido o Prémio Literário Mário António da Fundação Calouste Gulbenkian (2004), o Prémio Nacional de Cultura e Arte de Angola em Literatura (2007) e o Premio Internazionale Ceppo/Pistoia, em Florença (2013). Em 2025 foi a vencedora do Prémio Camões.
Para além da escrita, Ana Paula Tavares participou no documentário Cartas para Angola (2011), realizado por Coraci Ruiz e Júlio Matos — um filme que constrói pontes entre Brasil, Angola e Portugal, refletindo sobre as memórias e os afetos que unem as duas margens do Atlântico.
10/2025