Alves Redol
[Vila Franca de Xira, 1911 - Lisboa, 1969]
Romancista e dramaturgo, expoente cimeiro do movimento neo-realista em Portugal, cujo início oficial há quem faça coincidir com a edição do seu primeiro romance, Gaibéus (1939), descrição da vida e da luta das gentes do Ribatejo.
Para além das temáticas e da abordagem socializante das suas obras, Alves Redol é em si mesmo uma personagem exemplar num movimento literário cuja ambição maior era fazer uma arte do povo para o povo: filho de um pequeno comerciante ribatejano que lhe consegue dar, como máxima habilitação literária, um curso comercial feito em Lisboa, embarca com cerca de dezassete anos para Angola, tentando aliviar a crise financeira familiar. Depois de três anos de dificuldades – desemprego prolongado, doença –, volta para a metrópole, onde acaba por encontrar um emprego em Lisboa, fazendo todos os dias o caminho de ida e volta para Vila Franca de Xira. Ao longo da vida, a par do empenhamento sócio-político e da sua prolífica carreira de escritor e homem de letras, as actividades profissionais irão variar entre o ramo editorial, o betão pré-fabricado, a publicidade.
A sua obra, enquanto produto de um conceito de arte útil que visava promover o exame e a crítica das estruturas sociais, deixa, segundo Alberto Ferreira, «de se subordinar à forma e às categorias estéticas burguesas para proclamar a universalidade do conteúdo como elemento criativo de uma arte progressista.» Talvez devido a esta relativa despreocupação formal, a imagem que críticos e historiadores da literatura dão de Alves Redol é a de um autor desigual nos seus empreendimentos literários.
Para António José Saraiva / Óscar Lopes, o autor «não chegou a atingir, no seu contínuo progresso, um seguro gosto narrativo e dialogal». Também João Pedro de Andrade lhe aponta «desigualdades de estilo [...] apesar dos seus inegáveis dotes artísticos», nomeadamente nos primeiros romances, até à publicação de Olhos de Água (1954) e A Barca dos Sete Lemes (1958). A opinião e o respeito são no entanto unânimes na apreciação da sua grande capacidade e rigor de observação, da sua autenticidade.
Unânime é também o considerar Barranco de Cegos (1961) como a obra maior do autor, para além da importância inaugural de Gaibéus. Paradoxalmente Barranco de Cegos constitui uma excepção na obra de Alves Redol, ao tomar por objecto a história de uma família de grandes proprietários ribatejanos, deixando em fundo as movimentações das massas populares.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997