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terça-feira, 23-04-2024
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Excerto de uma Obra

Excerto de uma Obra
                  
A flauta
Era uma vez um rapaz que todos os dias ia para o monte com as suas cabras.
Não tinha com quem falar e só ouvia o uivo do vento, o sussurar do ribeiro, o canto dos pássaros.
- Ah, seu eu tivesse uma flauta... " pensou ele.
Tirou o canivete do bolso, cortou uma cana e fez uma flauta.
Contente, levou-a à boca.
Tocava como um apito, que horror!
Voltou a experimentá-la. Tirou dela uns sons agudos, desengonçados.
Que tristeza!
 
Insistiu, tomou-lhe o jeito e ao fim da tarde já tocava uma música simples mas tão fresca, límpida, comunicativa que quebrava toda a solidão.
Quando nasceu a lua ainda o rapas, entusiasmado, não parara de soprar na sua caninha verde. As ovelhas tinham fugido para longe. Os pássaros, nas ramarias, tinham-se calado para escutar.
E uma serpente, ondeante, de olhos de fogo, postara-se à sua frente, encantada com a melodia.
Ao vê-la, o rapaz começou a tremer dos pés à cabeça.
- Ai, que desgraça a minha! Desta é que não escapo... Vai-me matar...
Como o réptil parecia adorar a música, o jovem achou melhor continuar a tocar enquanto o bicho, fascinado, balançava o corpo brilhante e esguio.
 
Quando o céu se encheu de estrelas, o rapaz, exausto, pousou a flauta. Então a serpente, sem cerimónias, enfiou-se no cesto da merenda, enrolou-se, adormeceu. Ele deitou-lhe a tampa por cima e no monte dormiu também, à espera que as cabras voltassem.